O papa Francisco depositou na segunda-feira uma coroa de flores no porto de Lampedusa, em homenagem aos milhares de migrantes da África que já morreram tentando chegar à ilhota siciliana em barcos inseguros e superlotados.
A escolha de Lampedusa como destino da primeira viagem oficial de Francisco para fora de Roma é altamente simbólica, porque ele coloca os pobres e despossuídos como centro do seu pontificado, e conclama a Igreja a retomar sua missão de servir-lhes.
A viagem ocorre no começo da temporada de verão, período em que, há duas décadas, a ilha ao sul da Itália recebe um grande afluxo de barcos.
Milhares de moradores da ilha agitando bandeiras recepcionaram Francisco no porto, onde ele desembarcou de uma lancha da guarda costeira, acompanhado por uma frota de barcos pesqueiros. Antes de celebrar missa, ele conversou com alguns jovens migrantes africanos vestindo camisetas.
Durante a missa, marcada para um campo esportivo que serviu como centro de triagem para milhares de migrantes que fugiram dos distúrbios da Primavera Árabe em 2011, o papa usaria um cálice de madeira feito por um carpinteiro local com madeira de um barco de migrantes.
"Nós ficamos acostumados ao sofrimento das outras pessoas, não nos diz respeito, não nos interessa, não é da nossa conta", disse o pontífice durante a homilia, proferida de um altar construído com madeira de um barco de pesca antigo e pintado com as cores da bandeira italiana, vermelho, verde e branco.
Christopher Hein, diretor do Conselho Italiano de Refugiados, disse ao jornal católico Avvenire que a visita do papa é "um gesto extremamente importante", que ajudaria a chamar a atenção para a questão da migração.
A pacata Lampedusa, a apenas 113 quilômetros da Tunísia, normalmente vive da pesca e do turismo, mas se tornou um dos principais pontos de aceso à Europa para migrantes pobres e desesperados. Milhares sabidamente já morreram nessa tentativa, e inúmeros outros desapareceram sem deixar vestígios.
Segundo a ONU, quase 8.000 migrantes e candidatos a asilo chegaram à costa meridional da Itália no primeiro semestre do ano, sendo a vasta maioria oriunda do norte da África, especialmente da Líbia.
Enquanto a Igreja se debate com novas acusações e irregularidades financeiras no Vaticano e com a lembrança recente dos escândalos de pedofilia, a visita a Lampedusa deve servir para ditar um tom mais sóbrio, mantendo a linha do papa de tentar superar os problemas dos últimos anos.