O papa Francisco vai nomear 20 novos cardeais neste sábado, dois dias antes de um consistório extraordinário com purpurados católicos de todo o mundo, marcado para segunda e terça-feira no Vaticano e com ares de "pré-sucessão", já que estarão presentes aqueles que, futuramente, vão eleger o próximo pontífice.
Para o consistório ordinário, como é chamado o encontro de cardeais deste sábado, estava prevista a nomeação de 21 novos cardeais, mas haverá um a menos, já que o belga Lucas Van Looy decidiu não aceitar o título.
Entre os 20 novos membros do Colégio cardinalício, haverá 16 eleitores do futuro processo sucessório - é requisito ter menos de 80 anos de idade para eleger um papa.
Os novos cardeais vêm de todos os cantos do mundo, como o arcebispo de Ekwulobia (Nigéria), Peter Okpaleke; o arcebispo de Goa e Damão (Índia), Filipe Neri Ferrão; o arcebispo de Hyderabad (Índia), Anthony Poola; e o bispo de Wa (Gana), Richard Kuuia Baawobr.
Entre eles estão também dois brasileiros: o arcebispo de Brasília, Paulo Cezar Costa, e o arcebispo de Manaus, Leonardo Ulrich Steiner, que será o primeiro cardeal da região amazônica.
Um dos nomes mais surpreendentes entre os nomeados é o do arcebispo Giorgio Marengo, um italiano de 48 anos que é o administrador da Igreja Católica na Mongólia, onde há pouco mais de 1.500 católicos.
O número total de cardeais aumentará para 227, com os eleitores passando de 116 para 132 e os não-eleitores de 91 para 95.
A distribuição geográfica também mudou: por exemplo, em 2013, Ásia e Oceania tinham 11 cardeais eleitores e, após o consistório de sábado, chegarão a 24. Além disso, alguns vêm de áreas onde nunca houve cardeais, como Tonga e Papua Nova Guiné.
A Europa não mudou muito em termos de números, de 60 para 54, embora tenha ocorrido uma queda no número de eleitores cardeais italianos, pois em 2013 eram 28, e no final do próximo ano, quando alguns deles completarem 80 anos, serão 14.
“Pré-conclave”
Francisco deixou sua marca no Colégio dos Cardeais, pois escolheu 83 dos 132 cardeais eleitores.
O tema principal do consistório extraordinário de segunda e terça-feira será, como indicou o papa, refletir sobre a nova Constituição Apostólica "Praedicate evangelium", que trata da reforma da Cúria, a administração da Igreja Católica.
Alguns vaticanistas acreditam que o papa também possa consultar os cardeais sobre outras questões importantes para a instituição, tais como a elaboração de estatutos que regulamentam a figura do papa emérito.
O consistório sem precedentes, o uso de uma cadeira de rodas pelo papa e a visita de Francisco, no domingo, a Áquila - cidade onde Celestino V, o primeiro pontífice a renunciar na história, está enterrado - alimentaram especulações sobre uma renúncia do líder da Igreja Católica em breve.
O jornalista Alberto Melloni afirmou há alguns dias no jornal italiano "La Repubblica" que o evento tem "um claro sabor de pré-conclave", porque "o papa anunciou repetidamente que a "porta da renúncia está aberta".
"Talvez o papa o tenha convocado para verificar a qualidade dos nomes que escolheu ou para criar um pouco de sociabilidade cardinalícia: mas, certamente, os cardeais nunca viram um consistório como este", declarou.
O padre e jornalista Luis Badilla, que dirige um dos blogs mais seguidos sobre assuntos do Vaticano (Il Sismografo), intitulou um de seus artigos sobre o consistório: "Ensaios de conclave".
Badilla estimou, de acordo com os cálculos das reservas nas residências religiosas dedicadas aos purpurados, que é possível prever "uma presença de 145 a 150 cardeais".
"A reunião, independentemente de como seja convocada e apresentada, de fato, canonicamente, será um consistório extraordinário, o segundo deste papa, que em 20 e 21 de fevereiro de 2014 reuniu os cardeais para falar sobre a família e no qual apenas os primeiros 19 cardeais criados por Jorge Bergoglio estiveram presentes", disse. EFE