Religião
Salafistas buscam ganhar influência no mundo árabe
As violentas manifestações no mundo árabe contra um filme que denigre o Islã podem aumentar a influência dos salafistas, dispostos a se mobilizar para defender a religião e que ganharam uma margem de manobra maior depois da chamada Primavera Árabe.
Os levantes no mundo árabe possibilitaram a esses grupos a oportunidade de ocupar um importante espaço político, principalmente na Líbia, Tunísia e Egito.
Os salafistas têm "a vontade de criar uma relação de forças nas ruas, tendo como pretexto os ataques contra o sagrado", explica Jean-Pierre Filiu, professor de Ciências Políticas em Paris.
Ao contrário da Irmandade Muçulmana mais bem estruturada e com vocação política os salafistas se reúnem em pequenas formações heterogêneas, e transmitem uma mensagem mais religiosa e social, focada na defesa do dogma.
"Seu discurso político é embrionário. Sua prioridade é a reforma sócio-religiosa", explica Stéphane Lacroix, autor de várias obras sobre o salafismo.
Filiu salienta que o termo salafista é utilizado para "distinguir os islamitas apoiados pela Arábia Saudita da Irmandade Muçulmana. Hoje, o Qatar apoia a Irmandade Muçulmana; e a Arábia, os salafistas", afirma.
O Papa Bento XVI chegou ontem a Beirute para sua primeira visita ao Líbano, e pediu a judeus, cristãos e muçulmanos que eliminem o fundamentalismo religioso, considerado por ele uma ameaça "mortal". A visita ocorre no momento em que a região é sacudida por manifestações violentas contra um filme que ridiculariza o Islã.
Em sua Exortação Apostólica conjunto de diretrizes para os bispos do Oriente Médio Bento XVI afirma que o fundamentalismo "atinge todas as comunidades religiosas e rejeita o viver junto secular" que caracteriza países como o Líbano.
"O fundamentalismo quer tomar o poder, às vezes com violência, sobre a consciência de cada um e sobre a religião por razões políticas", alertou o Papa, sem apontar o dedo unicamente para o extremismo islâmico.
"Faço um apelo urgente a todos os líderes religiosos judeus, cristãos e muçulmanos da região, que procurem fazer todo o esforço para erradicar esta ameaça que afeta indiscriminadamente e fatalmente os fiéis de todas as religiões", escreveu.
Segundo o Papa, "as incertezas econômicas e políticas, a capacidade de manipulação de alguns e uma compreensão deficiente da religião entre outras coisas, são o leito do fundamentalismo religioso".
A Exortação Apostólica "Igreja no Oriente Médio" foi assinada quase dois anos após o Sínodo dos Bispos do Oriente Médio, que foi realizado no Vaticano, no outono de 2010, pouco antes da "Primavera Árabe". Esse documento enfoca a presença ancestral dos cristãos como "parte integrante" do Oriente Médio, um "laicismo saudável", a rejeição da violência, a vontade de lutar contra "estratégias para um Oriente Médio monocromático", a "gestão transparente das finanças das igrejas, a acolhida dos refugiados cristãos e imigrantes.
Grito de liberdade
Ao desembarcar em Beirute, Bento XVI também pediu o fim do fornecimento de armas à Síria, vizinha do Líbano, onde os confrontos entre o Exército e os rebeldes provocaram mais de 27 mil mortes, em sua maioria civis.
"As importações de armas devem cessar de uma vez por todas. Sem as importações, a guerra não poderá continuar", disse. "Ao invés de importar armas, o que é um grave pecado, seria conveniente importar ideias de paz, de criatividade, de amor ao próximo."
O Pontífice também comentou a Primavera Árabe, na qual vê "um desejo por mais democracia, liberdade, cooperação para uma identidade árabe renovada".
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