Estátua na Praça de São Pedro, no Vaticano – onde o papa conversou com vítimas de abusos sexuais do clero| Foto: Tony Gentile/Reuters

Comentário

Não há gesto de boa vontade que possa apagar o mal cometido

Marcio Antonio Campos, editor de Opinião e blogueiro de ciência e religião da Gazeta do Povo.

Tanto no encontro com vítimas de abusos quanto nas medidas práticas para punir os responsáveis e evitar novos casos, o papa Francisco está dando continuidade à política iniciada por seu predecessor, Bento XVI. Foi Ratzinger quem tomou a iniciativa de procurar as vítimas em viagens a Malta e aos Estados Unidos, e foi durante o seu pontificado que a Igreja expulsou de suas fileiras mais de 400 padres culpados de pedofilia, informação que só foi divulgada no início deste ano.

O abuso é uma realidade horrível, e muito provavelmente não há gesto de boa vontade que possa apagar o mal cometido contra as vítimas. O que Francisco e Bento XVI estão fazendo é mostrar àqueles que sofreram nas mãos de padres abusadores que a Igreja está ao seu lado. Em uma instituição com a capilaridade da Igreja Católica, é extremamente complicado alcançar e punir todos os pedófilos, mas isso não serve de desculpa para que Roma não coloque esforços para chegar a todos os culpados. A resposta do Vaticano, para muitos, demorou demais, mas não se pode dizer que os papas estão fechando os olhos.

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Papa Francisco (mão à esq.) cumprimenta fiéis em Campobasso, no sul da Itália
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O papa Francisco realizou ontem uma missa assistida por seis vítimas, hoje já adultas, de abusos sexuais dentro da Igreja. Durante a homilia, ele pediu perdão "pelos pecados de omissão" cometidos por líderes religiosos em relação aos "crimes graves". A missa ocorreu na residência do papa, no Vaticano, e depois ele conversou por cerca de 30 minutos com cada uma das vítimas.

"Humildemente peço perdão", disse o papa. De acordo com ele, a Igreja não respondeu adequadamente às denúncias de abuso apresentadas por familiares e pelas próprias vítimas, o que tornou o sofrimento dos envolvidos ainda maior. "E colocou em perigo outros menores", disse o pontífice. "Os pecados de abuso sexual contra menores pelo clero têm um efeito virulento na fé e na esperança em Deus."

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Francisco afirmou que algumas das vítimas se aferraram à fé, mas outras acabaram se afastando de Deus. "Muitos dos que sofreram a experiência buscaram paliativos pelo caminho da dependência. Outros experimentaram transtornos nas relações com pais, cônjuges e filhos", disse.

Culto

Em outro momento, o papa expressou "angústia e dor" pelo fato de alguns sacerdotes e bispos terem violado a inocência de menores e da própria vocação sacerdotal ao cometer os abusos sexuais.

"É como um culto sacrílego porque esses meninos e essas meninas confiaram no carisma sacerdotal para levá-los a Deus e eles os sacrificaram por causa de sua concupiscência", disse o sumo pontífice. Os abusos, na opinião de Francisco, são "atos que deixam cicatrizes para toda a vida".

Esperança

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Depois da homilia, o porta-voz da Santa Sé, o padre Federico Lombardi, afirmou que as palavras do papa são "uma mensagem de esperança e de coragem, dirigida às pessoas que sofreram abusos no mundo".

Em relação às seis vítimas presentes na homilia, três homens e três mulheres, vindos da Alemanha, Inglaterra e Irlanda, Lombardi explicou que o Vaticano optou por um número reduzido para que Francisco pudesse conversar pessoalmente com cada um deles.