Na sua última missa durante a visita a Cuba, o papa Francisco pediu nesta terça-feira (22) para os fiéis “semearem a reconciliação” e ressaltou que a fé dos cubanos segue viva apesar das “dores e penúrias”.
Durante a celebração no Santuário da Virgem da Caridade, perto da cidade de Santiago de Cuba, poucas horas antes do pontífice embarcar para os Estados Unidos.
“A alma do povo cubano (...) foi forjada entre dores, penúrias que não conseguiram apagar a fé, esta fé que permaneceu viva graças a tantas avós que seguiram tornando possível, no cotidiano do lar, a presença viva de Deus”, disse o papa em sua homilia no templo mais venerado da ilha, na presença do presidente cubano, Raúl Castro.
O pontífice fez referência, mesmo sem menção explícita, ao período em que o ateísmo foi imposto na ilha após a revolução cubana de 1959, quando muitos fiéis eram alvos de discriminação. Cuba deixou oficialmente de ser um Estado ateu em 1992 e passou a ser laico.
As relações entre a ilha e a Igreja melhoraram a partir da visita do papa João Paulo II em 1998, e agora o Vaticano é um interlocutor privilegiado do governo.
No final de uma viagem após a aproximação entre Havana e Washington, inimigos há mais de meio século, o papa fez ainda referência a “reconciliação”. “Como Maria, queremos ser uma Igreja que sai de casa para construir pontes, quebrar muros, semeando a reconciliação”, disse Francisco no pequeno templo do santo padroeiro da ilha.
Revolução
Francisco apelou para que os cubanos redescobrissem sua herança católica e vivessem uma “revolução de ternura”. A frase evocou uma fala atribuída a um dos heróis da Revolução Cubana, o também argentino Che Guevara: “Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás (é preciso ser duro, mas sem perder a ternura jamais)”.
“Nossa revolução passa sempre pela ternura, pela alegria que sempre se torna proximidade e compaixão, e nos leva a se envolver e a servir, à vida dos outros”, disse o pontífice.
Ele também pregou a reconciliação entre todos os cubanos, tanto dentro quanto fora do país, em referência aos que se exilaram para fugir do regime castrista.
Agenda
Depois da missa, o pontífice deve se encontrar com famílias cubanas na catedral de Santiago, antes de abençoar a cidade e viajar aos Estados Unidos. O pontífice argentino encerra a visita em pleno período de aproximação entre Washington e Havana.
Em Santiago de Cuba, grande porto da região leste da ilha que viu o nascimento da revolução cubana e perto da polêmica base americana de Guantánamo, Francisco se despedirá das autoridades e do povo cubanos, que o receberam no sábado.