O Vaticano informou ontem que o papa Francisco decidiu morar na Casa de Santa Marta, local onde se hospedam os cardeais no período de conclave, em vez de ir ao apartamento papal no Palácio Apostólico. O local será usado para encontros oficiais.
Segundo o porta-voz da Santa Sé, o padre Federico Lombardi, as obras do apartamento papal já foram concluídas, mas o sumo pontífice decidiu por ficar no apartamento onde está por enquanto. "Após a missa desta manhã, o papa, com palavras muito simples, deu a entender que pelo menos nesta primeira fase permanecerá hospedado ali", disse Lombardi.
Francisco está no apartamento 201 da Casa de Santa Marta, mais confortável que o quarto que usou no período de conclave. Lombardi diz que o local inclui uma sala de reuniões "que permitirá receber mais facilmente as pessoas e ter um espaço mais amplo".
As audiências oficiais e encontros com grupos, bispos ou chefes de estado continuarão sendo no segundo apartamento do Palácio Apostólico, onde se encontra a Biblioteca Privada e a sala Clementina. Foi no local que ele recebeu as presidentes da Argentina, Cristina Kirchner, e do Brasil, Dilma Rousseff.
A Casa de Santa Marta foi a casa do papa Francisco desde que entrou como cardeal no conclave que culminou em sua escolha como pontífice, sucedendo o papa emérito Bento XVI. Após eleito, ficou na residência, onde também vivem funcionários do Vaticano e se hospedam cardeais em visita à Santa Sé.
Com isso, o cardeal Jorge Mario Bergoglio quebra novamente o protocolo do Vaticano, que determina como moradia o apartamento do Palácio Apostólico. Seus antecessores, João Paulo II e Bento XVI, ocuparam o local após os dias de reforma.
Palavras
O cardeal cubano Jaime Ortega revelou em Havana um manuscrito com as palavras pronunciadas pelo então cardeal Jorge Mario Bergoglio sobre a missão da Igreja em uma sessão antes do conclave.
O manuscrito foi entregue a Ortega pelo próprio Bergoglio antes do mesmo ser eleito papa, e seu conteúdo "pôde ter influenciado na escolha dos cardeais" no último 13 de março, informou ontem a revista da Igreja Católica cubana Palavra Nova.
De acordo com a fonte, o arcebispo de Havana pediu a Bergoglio uma cópia de seu discurso na congregação geral de cardeais prévia ao conclave, "por coincidir" com seu pensamento sobre a Igreja.
O então cardeal primaz da Argentina negou ter uma cópia de suas palavras, mas, no dia seguinte, entregou um texto escrito de próprio punho a Ortega e também autorizou sua divulgação.
O site da Palavra Nova afirma que, em um encontro posterior entre o cardeal cubano e o já eleito papa Francisco no Vaticano, este "ratificou sua autorização para divulgar o texto, cujo original Ortega guarda como um tesouro especial da Igreja e uma lembrança privilegiada do atual pontífice".
O manuscrito de quatro pontos, que pode ser lido na integra no site da revista católica, menciona que a evangelização "é a razão da Igreja" e que, por isso, "deve sair de si mesma e ir em direção às periferias".
Sumo pontífice nomeia avenida na Argentina
A primeira avenida na Argentina com o nome Papa Francisco foi batizada ontem na cidade de La Plata, 62 quilômetros ao sul de Buenos Aires, segundo imagens do canal de televisão local.
Papa Francisco é agora o nome de uma parte da Avenida 53 que termina na Catedral de La Plata, considerada uma das maiores do mundo, com sete mil metros quadrados.
"Em La Plata ficamos comovidos com a escolha de Jorge Bergoglio para ser papa. Chegaram a nós muitas propostas para batizarmos lugares com seu nome, mas este é um local emblemático porque nele estão a Catedral e a praça mais importante" da cidade de 800 mil habitantes, disse ao canal TN o prefeito Pablo Bruera, ao término da cerimônia.
La Plata é uma cidade de intensa atividade comercial e conta com uma importante universidade pública frequentada por estudantes de vários países latino-americanos.
Dezenas de iniciativas parecidas foram apresentadas na Argentina, entre elas batizar com o nome do sumo pontífice a Rua Membrillar, via do bairro de Flores, no oeste da capital, onde o novo pontífice passou sua infância.
Contato
O papa, conhecido por seu gosto pelo contato direto com os fiéis, ligou nos últimos dias para padres amigos e até mesmo para o seu jornaleiro na Argentina.
"Ele me ligou duas vezes. A primeira não me encontrou e deixou mensagem dizendo que ligaria depois. Ele falou como sempre, como um amigo que fala com outro amigo, e até brincou", contou o bispo emérito de Viedma, Miguel Hesayne, conhecido defensor dos direitos humanos e um dos vários padres para quem Francisco ligou.
O pontífice também ligou para seu jornaleiro para avisar que vai cancelar a assinatura do jornal La Nación, já que agora mora em Roma.
"Quando ele foi para Roma [para o conclave], me disse que ia ficar uns 20 dias fora e que queria continuar recebendo o jornal. Depois da eleição, ele ligou para dizer que ia suspender a entrega porque ia ficar em Roma", contou Daniel Del Regno, dono de uma banca de jornais próxima ao arcebispado, na Praça de Maio.