Reportagem do "Times" britânico afirma nesta quarta-feira que o Papa Bento XVI pretende reabilitar a celebração da missa em latim, abolida depois das reformas do Concílio que durou de 1962 a 1965. A informação é atribuída a fontes no Vaticano e em comentários de blogs católicos.
O Papa já teria assinado o indulto universal, isto é, a permissão, que padres em todo o mundo usem novamente a língua que, durante 1.500 anos, foi a oficial da celebração da missa. O indulto pode vir a ser publicado nas próximas semanas.
Partes da tradição, lembra o jornal, remontam ao século VI. Ela é chamada de Missa Tridentina em alusão ao Concílio de Trento, realizado no século XVI.
Algumas paróquias têm permissão para rezar a missa em latim, mas são poucas.
A diretriz não será obrigatória, diz a reportagem. Bispos terão o poder de vetá-la, por escrito.
Um blog afirma que o padre Martin Edwards, de Londres, recebeu a confirmação da reabilitação por intermédio do cardeal Joseph Zen, de Hong Kong, que teria recebido a informação do próprio Papa, em encontro particular.
Quando era cardeal, antes de virar Papa, Joseph Ratzinger celebrava missas em latim.
A Missa Tridentina tem palavras em grego também. Nela, o padre fica de costas para os fiéis. Sua rigidez não deixa margem para personalização.
O Papa João Paulo II, morto em 2005, permitiu aos tradicionalistas que celebrassem, com autorização de bispos de cada diocese, missas em latim. Mas muitos dos bispos mostraram-se relutantes em conceder tal tipo de autorização argumentando que a medida causaria confusão entre os fiéis acostumados a ouvir a missa em sua língua nativa.
O maior grupo católico tradicionalista é a Sociedade do Santo Pio (SSPX), fundada pelo arcebispo francês Marcel Lefebvre, morto em 1991. A SSPX, com sede na Suíça, afirma ter um milhão de seguidores, um montante relativamente pequeno se comparado aos 1,1 bilhão de católicos do mundo todo.
João Paulo II sancionou, em 1998, a excomunhão de líderes tradicionalistas quando Lefebvre ignorou os avisos dele e ordenou quatro bispos sem uma autorização papal. A medida deu ensejo ao primeiro cisma na Igreja Católica dos tempos modernos.
Desde sua eleição do ano passado, o Papa Bento XVI tenta atrair de volta a SSPX, na qual vê uma guardiã do verdadeiro catolicismo.
O Pontífice retomou o diálogo direto com o grupo ao realizar um encontro inesperado com o bispo Bernard Fellay, que assumiu a liderança da sociedade depois da morte de Lefebvre.
Os tradicionalistas afastados da Santa Sé exigiram o cancelamento da excomunhão como condição prévia para a realização de um diálogo capaz de sanar o cisma.
No mês passado, Bento XVI permitiu a criação de um novo instituto religioso para um pequeno número de padres franceses e os seguidores deles que são ex-integrantes da SSPX.
Em troca, os membros do novo instituto e os católicos que os seguem reconheceram, na prática, a autoridade do Vaticano e do Papa.
No ano passado, um importante membro da SSPX provocou uma polêmica ao pedir a Bento XVI que conclamasse os judeus e os seguidores de outras religiões que se convertessem ao catolicismo, abandonando seus "sistemas falsos", uma exigência contrária à postura de tolerância adotada pelo Concílio Vaticano Segundo.
Apesar de concordar com as reformas impostas por aquele Concílio, Bento XVI agradou muitos católicos ao sublinhar que não se pode permitir a diluição das crenças e da identidade desses fiéis em nome do diálogo com outras religiões.
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