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Jornal vaticano afirma que texto sobre Jesus casado é falso

EFE

O jornal vaticano L’Osservatore Romano afirmou que o papiro do século IV recentemente apresentado no qual aparece a frase em copta "Jesus disse-lhes, minha esposa ...", é "falso".

O vespertino da Santa Sé publicou um artigo do professor italiano Alberto Camplani, especialista em língua copta e professor de História do Cristianismo na Universidade La Sapienza de Roma, no qual analisa o papiro recuperado pela professora americana Karen King. Em seu artigo, Camplani disse que, "ao contrário de outros papiros, es­­se não foi descoberto em uma­­ escavação, mas provém de­­ um mercado de antiguidades". Ele ressalta que "é preciso adotar precauções, que excluam que se trata de algo falsificado".

"Razões consistentes fazem pensar que o papiro seja uma trôpega falsificação, como tantas que chegam do Oriente Médio."

Trecho de publicação do L’Osservatore Romano.

Quando anunciou nesta semana que havia identificado um fragmento de um antigo texto copta (cristãos egípcios) em que Jesus pronuncia as palavras "minha esposa", a historiadora Karen L. King disse que iria fazer com que a descoberta chegasse ao público – apesar de muitas questões não resol­­vidas – para que os seus colegas acadêmi­­cos pudes­­sem­­ opi­­nar.

E eles opi­­na­­­­ram, de fa­­to.­­­­ Alguns dis­­seram que o­­ pa­­­­­­­­pi­­ro­­ pode­­ria­­­­­­­­­­ ter ­­si­­do fal­­si­­fi­­­­ca­­­­do.­­

Outros ques­­­­tiona­­ram a inter­­pre­­tação­­ de King. A alguns a culparam por ter publicado um artigo sobre um­­ item de pro­­veniência desconhecida.

Mas mesmo alguns desses que duvidam também estão aplaudindo seu trabalho. Muitos estudiosos disseram em entrevistas que ficaram empolgados com a descoberta, porque, se for genuína, ela sugere que pelo menos uma comunidade dos primeiros aderentes do Cristianismo acreditava que Jesus era casado.

"É obviamente uma descoberta importante", disse­­ Carl R. Holladay, professor de estudos sobre o Novo Tes­­tamento na Faculdade Can­­dler de Teologia na Uni­­ver­­ sidade de Emory.

A historiadora Karen King,­­­­ que tem uma cadeira­­ na­­ Escola Teológica da Uni­­ver­­si­­dade Harvard, reiterou­­ que­­ o fragmento não prova que Jesu s era casado, porque provavelmente foi escri­­to­­ três­­ séculos e meio após sua­­ morte, fazendo com que não­­ se­­ja historicamente con­­fiá­­vel. Ela destacou ainda que o fragmento é meramente­­ um olhar sobre uma discussão que ocorreu entre os primeiros cristãos sobre se o seu salvador era casado ou celibatário.

Apesar de suas precauções, a descoberta levou a manchetes de que "Jesus Era Casado" no mundo inteiro – e piadinhas sobre as exigências domésticas da Sra. Jesus.

O fragmento de papiro, que mede apenas 4 por 7,5 cm, está escrito em copta, que a historiadora King diz ser consistente com a escrita observada no Egito do século IV. A superfície frontal contém oito linhas incompletas, escritas em tinta escura o suficiente para ser legível ainda. A linha 4 aparentemente diz, "Disse-lhes Jesus, ‘Minha esposa...’".

Outras frases no texto su­­­­ge­­­­rem que seja um re­­la­­­­to de­­ um diálogo entre Jesus e­­ seus­­ discípulos, explica Ka­­­­ren­­ King. De acordo com sua tra­­­­dução, a linha 3 inclui as­­­­ pa­­­­la­­vras "Maria é digna dis­­so".

A linha 5, imediatamente após a linha sobre a esposa de Jesus, diz "...ela será capaz de ser meu discípulo". A linha 7 diz, "Quanto a mim, eu com ela moro para...".

Fora as questões sobre a autenticidade e proveniência do fragmento, alguns estudiosos questionaram a interpretação de King, já que falta contexto no fragmento. Ecoando outros autores, Darrell L. Block, professor pesquisador sênior de estudos sobre o Novo Testamento no Seminário Teológico de Dallas, disse numa entrevista que a expressão "minha esposa" poderia ser uma referência metafórica à Igreja, que, na Bíblia, o apóstolo Paulo chama de "a noiva" de Cristo.

Mas Holladay discorda, dizendo: "O papiro parece refletir algum tipo de diálogo entre Jesus e seus discípulos em que ele está falando sobre gente de verdade. A linguagem não está sendo usada metaforicamente".

Tradução: Adriano Scandolara.

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