O Paquistão enterrou neste domingo (27) 24 soldados mortos em um ataque aéreo lançado pela Otan na fronteira. A ação pode levar à ruptura da relação entre os Estados Unidos e um aliado considerado necessário para combater militantes na região.
O incidente foi visto como uma provocação dos Estados Unidos, que já haviam enfurecido a poderosa força armada paquistanesa em maio com o ataque das forças especiais norte-americanas que mataram Osama bin Laden.
Autoridades norte-americanas e da Otan estão tentando aliviar as tensões, mas as mortes dos soldados são um teste para o péssimo casamento de conveniência entre Washington e Islamabad.
Helicópteros da Otan e caças baseados no Afeganistão atacaram dois postos militares no Paquistão no sábado, matando os soldados. O Paquistão disse que o ataque não foi provocado.
Autoridades norte-americanas e da Otan lamentaram as mortes, mas as circunstâncias exatas do ataque não estavam claras.
Em meio à fúria contra o ataque, milhares de pessoas realizaram protesto em frente ao consulado dos Estados Unidos na cidade de Karachi. Um repórter da Reuters que testemunhou a manifestação afirmou que as pessoas gritavam: "Fim da América". Um jovem subiu no muro que protege o consulado e fincou uma bandeira paquistanesa no arame farpado.
"Os EUA apunhalam o Paquistão nas costas, de novo", era a manchete do Daily Times, refletindo a fúria com o ataque ao país, uma potência regional vital para os esforços norte-americanos para estabilizar o vizinho Afeganistão.
O ministro paquistanês das Relações Exteriores, Hina Rabbani Khar, falou com a secretária norte-americana de Estado, Hillary Clinton, por telefone na manhã de domingo para transmitir "o profundo sentimento de ira sentido em todo o Paquistão."
"Isso vai contra o progresso feito pelos dois países para melhorar as relações e força o Paquistão a rever os termos de compromisso," disse um comunicado do Ministério do Exterior, citando a conversa de Khar com a colega norte-americana.
Khar também informou Hillary de que o Paquistão quer que os Estados Unidos deixem uma base aérea no país.
O secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, disse que a morte de soldados paquistaneses foram resultado de um "incidente trágico e sem intenção", e o classificou de imperdoável. Ele disse que a Otan vai apoiar todas as investigações. "Nós vamos descobrir o que ocorreu e tirar as lições desse incidentes". Rasmussen informou que encaminhou uma carta ao primeiro-ministro paquistanês Yousaf Raza Gilani para lamentar o incidente.
Rasmussen sublinhou os interesses comuns entre a Otan e o Paquistão na luta contra militantes islâmicos. E disse que a aliança bélica continua comprometida em trabalhar com o país para garantir que tais eventos não se repitam.
O Paquistão fechou as rotas de fornecimento da OTAN para o Afeganistão em retaliação ao pior ataque desde que Islamabad se aliou a Washington depois dos atentados de 11 de setembro de 2001 contra os Estados Unidos.
Cerca de 40 soldados estavam estacionados nos postos no momento do ataque, disseram fontes militares.
"Eles atacaram nosso posto sem nenhum motivo e mataram os soldados enquanto eles dormiam," disse um oficial paquistanês.
Um incidente similar em 30 de setembro de 2010, que matou dois paquistaneses, forçou o fechamento das rotas de fornecimento da OTAN através do Paquistão por 10 dias.
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