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Mundo islâmico

Paquistão está expulsando 1,7 milhão de refugiados afegãos. Por que o islã não se revolta?

Milhares de afegãos deixam o Paquistão após nova política de deportação (Foto: Reprodução/Agência EFE)

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No mês passado, o Paquistão anunciou uma dura política de expulsão de imigrantes sem documento do país, decisão que foi justificada pelo aumento de ataques terroristas dentro do território no último ano, supostamente ligado a grupos que recebem apoio do Talibã, segundo o governo.

Dados do Instituto Paquistanês de Estudos de Conflitos e Segurança mostram que durante o primeiro semestre deste ano, os ataques extremistas aumentaram 80% no país. Isso provocou a expulsão de mais de 1,7 milhão de afegãos de suas casas.

Muitos dos deportados, que nasceram em território paquistanês após suas famílias fugirem de conflitos no país vizinho há décadas, agora se veem diante da trágica realidade de “retornarem às raízes”, em um país que atravessa uma das piores crises humanitárias do mundo, sob o poder do Talibã.

Segundo dados da ONU, mais da metade da população afegã depende de ajuda humanitária para sobreviver e 25 milhões se encontram em situação de pobreza.

O prazo de saída dos imigrantes terminou no início do mês e, a partir de agora, os que ficaram enfrentam a prisão e a deportação compulsória.

A crise migratória do Paquistão é o mais novo desafio enfrentado no mundo islâmico, que recentemente se viu imerso em uma nova guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas, na Faixa de Gaza.

A questão tem mobilizado diferentes países da região na defesa da “causa palestina” e o fim dos “ataques sionistas”, como se referem o Irã, o Catar, o Líbano e a Turquia sobre a ofensiva israelense.

Esses países, que têm em comum a religião muçulmana, ficaram em alta na imprensa internacional no último mês por liderarem tratativas para libertação de reféns e um cessar-fogo na região de Gaza. No entanto, nenhuma política semelhante é vista no Paquistão, que possui 95% da população adepta ao islã.

Pelo contrário, dados da ONG Anistia Internacional (AI) apontam que os países do Golfo Pérsico mantêm rígidas restrições contra o recebimento de refugiados e dificultam a concessão de vistos para estrangeiros, mesmo que sejam islâmicos, cobrando altas taxas para a aprovação do documento, o que impossibilita uma esmagadora maioria de pessoas de adentrarem nas nações próximas.

Isso se mostrou mais evidente nos últimos anos com a Primavera Árabe, quando as nações do Golfo fecharam ainda mais suas fronteiras para refugiados de guerra.

A Arábia Saudita e seus vizinhos Omã, Catar e Emirados Árabes Unidos justificam o “receio” de entrada de imigrantes pela redução de ofertas de emprego para seus cidadãos, com a chegada de nova mão de obra, e a infiltração de grupos terroristas em seus territórios.

O que chama a atenção nessa justificativa é que muitos desses grupos extremistas islâmicos são financiados (link) por países que, depois de incentivarem os ataques, se fecham para o recebimento de islamistas.

A Rede dos Haqqani é a principal organização miliciana que atua entre o Paquistão e o Afeganistão, sendo apontada como a responsável por diversos ataques na região, em especial neste último ano.

Baseado principalmente no leste do Afeganistão, com supostas bases ao longo da fronteira no noroeste do Paquistão, o grupo se tornou mais relevante sob o comando do Talibã nos últimos anos. Os EUA classificaram a organização como terrorista.

Relatórios da ONU indicam que a milícia tem um forte vínculo com a rede Al-Qaeda, outro grupo armado financiado por países islâmicos como o Catar e o Irã.

Outro motivo do “silêncio” dos países muçulmanos na crise humanitária do Paquistão, segundo o jornal The Citizen, é o retorno do Talibã ao poder.

Depois que os EUA retiraram suas tropas do país, durante a gestão de Biden (link), o Afeganistão foi dominado novamente pelo regime extremista islâmico, o que provocou um afastamento diplomático de muitos países aliados ao governo americano devido à dura política instaurada.

O Afeganistão é considerado o maior produtor de ópio do mundo, sendo responsável por 80% da papoula em nível mundial. No entanto, em 2022, o líder supremo do Talibã, Haibatullah Akhundzada, proibiu o cultivo da matéria-prima, a principal fonte de renda para a população afegã e derrubou ainda mais a economia de um país que já estava em crise.

O Afeganistão possui ainda uma quantidade expressiva de cobre, petróleo, ouro, urânio, carvão e outros recursos que chamam a atenção global para o território. No entanto, os interesses estrangeiros na região foram reduzidos com o atual governo, que retirou as condições favoráveis para investimento e envolvimento político estrangeiro no país.

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