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O Paquistão está em alerta reforçado de segurança nesta quarta, quando ocorre o funeral do governador da província do Punjab, Salmaan Taseer. Trata-se do mais graduado político do país a ser morto em três anos, no crime mais grave envolvendo uma liderança paquistanesa desde o assassinato da ex-primeira-ministra Benazir Bhutto. Taseer, de 66 anos, era uma das vozes moderadas mais fortes contra o radicalismo islâmico e a crescente ameaça do Taleban e da Al-Qaeda no Paquistão. Ele foi morto a tiros nesta terça por um de seus guarda-costas, nas proximidades de um café em Islamabad.

Envolto em um lençol branco, o corpo foi levado à Casa do Governador, em Lahore, capital provincial do Punjab. Familiares e amigos homenagearam o morto, antes do funeral de Estado ordenado pelo primeiro-ministro Yousaf Raza Gilani. Os serviços na cidade estão fechados e as autoridades fizeram um cerco em importantes vias para evitar possíveis distúrbios. Ontem, dezenas de membros do Partido do Povo do Paquistão (PPP) foram às ruas para protestar contra o homicídio. "A segurança está em alerta máximo em Lahore e em todo o Punjab", disse o comissário de Lahore, Khusro Pervez.

Gilani, que enfrenta uma luta política para se manter no cargo, apelou por calma. O país ainda lembra dos distúrbios generalizados ocorridos após o assassinato da ex-premiê Benazir, em dezembro de 2007. Atualmente, o presidente do Paquistão é Asif Ali Zardari, que era casado com Benazir e também é membro do PPP, como a ex-companheira e Taseer.

As investigações apuram os motivos de o guarda ter matado o governador. O guarda-costas assumiu o crime, dizendo que atacou o patrão por declarações deste contra as leis de blasfêmia no país. Agora, as autoridades investigam se ele agiu sozinho ou era parte de uma conspiração mais ampla.

Segundo um relatório preliminar da autópsia, o corpo de Taseer tinha 29 perfurações de bala. "Nós investigaremos se foi um ato individual ou se há uma organização por trás disso", afirmou o ministro do Interior, Rehman Malik. O ministro disse que o responsável pelo crime se chama Malik Mumtaz Hussain Qadri, um quadro treinado pelo governo e que já havia estado protegendo o governador em cinco ou seis ocasiões anteriores. "Nós queremos saber quem colocou seu nome na lista da escala. Nós sabemos que ele visitou o supervisor da polícia para colocar seu nome na lista", disse o ministro. O supervisor e seu vice estão entre as mais de dez pessoas detidas para interrogatório, segundo funcionários.

Taseer usava mensagens pelo site Twitter e suas aparições públicas para criticar a lei de blasfêmia, dizendo que não a apoiaria apesar da pressão de seu próprio partido, o PPP, e das ameaças de morte feitas por fanáticos. Ele visitou uma cristã mãe de cinco filhos sentenciada à morte por insultar o profeta Maomé, dizendo estar confiante de que ela era inocente. Os Estados Unidos afirmaram que a morte foi uma "grande perda". Analistas disseram que o crime mostra o como o extremismo religioso penetrou na sociedade paquistanesa.

Dias antes, comércios foram fechados pelo país para protestar contra o abrandamento da lei de blasfêmia. "O extremismo religioso penetrou tão fundo na sociedade que ele entrou no sistema estatal", notou o analista político e de segurança Hasan Askari. Há um temor pela segurança do parlamentar do PPP e ex-ministro da Informação Sherry Rehman, que propôs uma lei no Paquistão para abrandar a lei de blasfêmia. Um protesto contra esse possível abrandamento ocorreu em 31 de dezembro, com episódios de violência pelo país.

O governo estará paralisado por três dias em sinal de luto nacional. A administração já enfrenta uma crise, após a saída do Movimento Muttahida Qaumi da coalizão governista. O líder oposicionista Nawaz Sharif deu ao primeiro-ministro 72 horas após o período de luto para concordar com uma série de reformas. Analistas dizem que Gilani pode estar relutante em enfrentar Sharif, temendo que o partido deste, a Liga Muçulmana, possa convocar uma votação de uma moção de censura contra o governo no Paquistão. Caso essa moção seja aprovada, as eleições devem ser antecipadas. As informações são da Dow Jones.

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