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Religião

Para a China, não basta perseguir cristãos: ditadura também interfere em assuntos internos da Igreja

O ditador da China, Xi Jinping, vem desrespeitando um acordo estabelecido com a Santa Sé em 2018 para a nomeação de bispos (Foto: EFE/EPA/Ng Han Guan)

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Em 2016, o ditador chinês, Xi Jinping, afirmou que “grupos religiosos devem aderir à liderança do Partido Comunista” da China (PCCh). Coerente com essa visão, a ditadura comunista promove uma grande perseguição a religiosos e comunidades que apenas buscam praticar sua fé – um dos casos mais extremos é o genocídio dos uigures, minoria muçulmana da região de Xinjiang.

Contra a Igreja Católica, a repressão também é intensa. Um dos casos recentes mais notórios foi a prisão, no ano passado, do cardeal Joseph Zen, por associação a uma entidade que ajudava financeiramente os manifestantes dos protestos por democracia em Hong Kong.

Entretanto, para o PCCh, não basta perseguir católicos: o regime comunista também interfere em assuntos internos da Igreja na China.

Este mês, o papa Francisco decidiu aprovar a nomeação do novo bispo de Xangai, Joseph Shen Bin, que havia sido designado pelas autoridades chinesas em abril, sem a aprovação do Vaticano.

O cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, comentou, em declarações reproduzidas pela Catholic News Agency, que Francisco buscou “remediar a irregularidade canônica criada em Xangai, em vista do bem maior da diocese e do exercício frutífero do ministério pastoral do bispo”. Também argumentou que a cidade estava sem bispo há mais de dez anos.

Ao contrário do que acontece em países democráticos, onde governos nacionais não interferem em procedimentos internos da Igreja, um acordo provisório entre Santa Sé e Pequim estabelecido em 2018 estipula que a China indique bispos antes de serem nomeados pelo papa, e este, em tese, tem a palavra final. Na prática, mesmo esse acordo, renovado em 2020 e em 2022, não tem sido respeitado pela China.

O caso de Shen Bin foi a segunda violação do compromisso em menos de um ano: em novembro, as autoridades chinesas haviam nomeado John Peng Weizhao como bispo auxiliar de Jiangxi, uma diocese que não é reconhecida pelo Vaticano.

Apesar dessas manifestações de desrespeito, Parolin disse que a Santa Sé segue “determinada” a manter diálogo com a China. “De fato, o diálogo entre o lado do Vaticano e o lado chinês continua aberto e acredito que seja um caminho de certa forma obrigatório”, argumentou o cardeal.

Shen Bin é presidente do Conselho dos Bispos Chineses, entidade vinculada ao governo chinês e não reconhecida pelo Vaticano. A Santa Sé quer uma conferência episcopal tradicional na China e o estabelecimento de um contato regular entre os bispos chineses e o papa.

Em maio, funcionários regionais do PCCh visitaram a diocese de Xangai e foram recebidos por Shen Bin. Qian Feng, um dos representantes do partido, pediu aos católicos da cidade adesão a um projeto de “sinização” (acomodação a ideais culturais chineses) da religião e uma “orientação” rumo ao socialismo.

“Ao mesmo tempo, devemos nos concentrar em dois temas principais, unidade e democracia, unir e orientar a maioria dos fiéis religiosos para avançar em uma nova jornada, construir uma nova era, construir consenso e reunir forças para o desenvolvimento de alta qualidade da sociedade econômica de Xangai e vários empreendimentos”, disse Feng, segundo reportagem do site Union of Catholic Asian News.

O Vaticano não tem laços diplomáticos com a China: a Santa Sé é um dos poucos Estados no mundo que reconhecem Taiwan.

Aparência das igrejas irrita ditadura chinesa

Além dessa interferência, Xi Jinping quer mandar na aparência das igrejas católicas na China. Como parte da mencionada campanha de sinização, que também atinge lugares sagrados de outras religiões, igrejas estão tendo que passar por adequações.

No seu mais recente relatório sobre liberdade religiosa, a organização Ajuda à Igreja que Sofre (ACN, na sigla em inglês), que colocou a China na classificação “perseguição”, destacou o caso da Igreja do Sagrado Coração em Yining, na região de Xinjiang.

Embora a igreja possua todas as autorizações exigidas pela Administração para Assuntos Religiosos da China – até mesmo funcionários do distrito de Yili e autoridades de Yining compareceram à inauguração, no ano 2000, e elogiaram a construção –, em 2018, o Gabinete de Assuntos Religiosos promoveu uma série de mudanças na edificação.

Foram desfigurados quatro baixos-relevos da fachada, estátuas de São Pedro e São Paulo foram removidas, a cruz que adornava a cúspide do tímpano foi arrancada e as duas cúpulas e as torres com os sinos foram destruídas por serem “muito vistosas”.

Em fevereiro de 2021, as autoridades locais chegaram a determinar a destruição da igreja, mas voltaram atrás após uma reportagem do site Asia News denunciar a ameaça.

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