• Carregando...

Paris – O sociólogo francês Alain Touraine não está tão preocupado com a sucessão de Fidel Castro e a transição em Cuba, com ou sem Raúl Castro, mas sim em evitar o aumento da influência do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, na América Latina. Diretor de estudos da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais e membro da Academia de Ciências de Nova Iorque, especialista em América Latina, Touraine analisa o futuro de Cuba.

Que conseqüências políticas terá, para a América Latina, terá a saída de cena de Fidel Castro?

Alain Touraine – Não acredito na possibilidade do regime sob outra liderança, mas também não acredito na tomada do poder pelos cubanos de Miami, que estão muito comprometidos com a vida americana. O problema é Chávez. O apoio que vinha da União Soviética hoje vem do petróleo de Chávez. A Venezuela recebe importante apoio nas áreas de educação e saúde de Cuba e, em contrapartida, vende seu petróleo para Cuba pela metade do preço.

Essa nova reintegração de Cuba à América Latina se daria através da Venezuela de Chávez e da Bolívia de Evo Morales?

Tente imaginar que Chávez possa estender sua influência e a Bolívia faça parte desse conjunto. Nesse caso, teríamos uma América Latina que mais do que antes terá de tratar com a tendência radical e extremista do tipo Fidel ou Chávez. Essa é uma transformação profunda e o herdeiro de Fidel nesse momento não é Raúl, mas sim Chávez. Essa será uma evolução de extrema gravidade. Por isso defendo a tese de que é preciso evitar a extensão da influência de Chávez. Tudo indica que a transição vai permitir negociar em posição de força a volta das empresas estrangeiras (a Cuba), em particular do setor do turismo. É isso o que vai se passar e Cuba voltará a ser uma república de bananas, quase exclusivamente turística, que andará de mãos dadas com a prostituição.

Uma evolução nessa direção não poderá gerar reações internas seja contra Raúl ou quem estiver no poder após Fidel Castro?

A tendência principal, quando um país atravessa um regime tão esmagador e longo, é dizer que sua capacidade de ação interna é limitada. Creio que será em direção de Raúl que os anticastristas vão evoluir, o que não me impede de continuar imaginando o fim do regime castrista. A reintrodução dos anticastristas, os que estão em Cuba ou no exílio (exceto os de Miami), será inevitável.

O sr. acredita numa abertura do governo dos Estados Unidos para Cuba após Fidel?

Não será o presidente George W. Bush que fará uma abertura em direção a Cuba, mas sim Cuba que vai procurar sair dessa indefinição. Evidentemente, Bush e os outros não farão nada com Raúl no poder. Essa será uma fase de transição, menos de transição política, mas sim de business.

O regime poderá sobreviver muito tempo sem Fidel?

Não sei qual será a saída, mas a idéia de que possa continuar com Raúl me parece irrealista. Raúl controla o aparelho, em particular os militares, mas não tem o carisma e a função histórica de seu irmão.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]