O Irã aceitou um acordo que impede o desenvolvimento da tecnologia de enriquecimento de urânio no curto e médio prazo, mas ninguém pode dizer que não fará a bomba daqui a cinco ou dez anos. A opinião é do professor de história contemporânea da Universidade Federal Fluminense Bernardo Kocher, para quem o país persa apenas "adiou a entrada no clube atômico".
Isso porque não é apenas o governo dos aiatolás que deseja a tecnologia nuclear, mas também sua oposição. "Toda a classe média (iraniana) tem ambições de que o Irã alcance a hegemonia", disse Kocher ontem à Gazeta do Povo. O que seria obtido por meio do poderio nuclear.
O professor de Relações Internacionais Heni Ozi Cukier, da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) também é cético quanto às "boas-intenções" da cooperação iraniana. "O acordo soa mais como uma tática iraniana para ganhar tempo", avalia.
Um dos indicativos disso seriam os "buracos" no acordo, que podem levar a novas contestações do Irã no futuro. Um deles é o não esclarecimento por parte do Irã se aceitará todas as inspeções exigidas pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Essa é uma das ponderações do professor Alcides Costa Vaz, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB).
Ele lembra que o Irã anunciou no ano passado a existência de algumas instalações nucleares que não eram conhecidas internacionalmente. Esse foi um passo no sentido da transparência, mas também gerou preocupação, pela possibilidade de existirem outras instalações não conhecidas.
"Seria importante que o Irã tivesse todas as suas instalações sujeitas às salvaguardas da AIEA", diz Vaz.
Instabilidade
Além dos fatores técnicos relacionados à obtenção de tecnologia nuclear, a política externa do Irã traz instabilidade às negociações, na opinião do professor de Relações Internacionais da PUC-SP Reginaldo Nasser. Como país aliado do extremista Hezbollah, no Líbano, do Hamas, na Faixa de Gaza, e com influência no Iraque, o Irã adquiriu um papel importante de liderança no Oriente Médio. Somado a isso, faz declarações inflamadas contra EUA e Israel.
A tensão resultante, porém, pode estar sendo exagerada, na opinião de Nasser. "Se (os iranianos) são tao agressivos e irracionais, por que não saem do Tratado de Não Proliferação Nuclear?", questiona. Ele lembra que o Irã assinou o acordo desde 2003 e nunca cogitou sair do grupo signatário. "O Irã dá sinais de que deseja negociar", disse Nasser à Gazeta do Povo.