A instalação de um Estado islâmico não é uma prioridade para o Egito e pode colocar em risco as necessidades mais urgentes da população.
O alerta foi feito pelo líder terrorista Osama bin Laden, que revela uma desconhecida faceta pragmática em cartas achadas no esconderijo em que foi morto pelo Exército dos EUA, há um ano.
Trechos dos documentos divulgados pelas autoridades americanas apareceram com destaque no jornal egípcio "Al Ahram" desta terça-feira (15), em meio às notícias sobre a reta final da campanha eleitoral do país.
Eles mostram uma prudência surpreendente por parte do terrorista que dedicou a vida ao fundamentalismo islâmico.
Nas cartas, escritas entre 2006 e 2011, Bin Laden adverte de que a implantação de uma teocracia no maior país árabe poderia levar a sanções internacionais e afetar seriamente o abastecimento de alimentos.
"Antes de construir um Estado islâmico", escreveu Bin Laden, "é preciso pensar na segurança alimentar do povo egípcio".
Grupos islâmicos
Segundo o "Al Ahram", o recado de Bin Laden foi endereçado ao grupo Gamaa Islamiya, responsável pela morte do presidente egípcio Anuar Sadat, em 1981, e que por anos defendeu o estabelecimento de um Estado islâmico no país.
Mas o plano desprezava interesses vitais da população egípcia, criticou Bin Laden, pois provavelmente levaria a sanções norte-americanas como o corte no abastecimento de trigo, causando fome em massa.
Apesar de inimiga declarada das ditaduras árabes, a Al Qaeda não teve nenhuma relevância na onda de revoltas que ficou conhecida como Primavera Árabe.
A divulgação da advertência de Bin Laden é feita a poucos dias das primeiras eleições presidencial no Egito após a queda do ex-ditador Hosni Mubarak, marcadas para a próxima semana.
Dos três candidatos favoritos, dois são islamitas, mas ambos tem evitado declarações bombásticas em defesa da implantação no Egito da "sharia", a lei islâmica.