O presidente do Paraguai, Horacio Cartes, disse ontem que o retorno do país ao Mercosul depende da resolução dos "problemas jurídicos" criados com a adesão da Venezuela ao bloco à revelia de Assunção.
"Politicamente, não temos problema com o ingresso da Venezuela. Temos um problema de interpretação [sobre o ingresso] porque, para nós, [a decisão] tem que ser por unanimidade", disse Cartes, em sua primeira entrevista como presidente. A posse foi anteontem. "Então tem um problema que é jurídico."
Caracas entrou no bloco em dezembro, quando o Paraguai estava suspenso por causa da destituição de Fernando Lugo e sem que a adesão da Venezuela fosse aprovada pelo Senado paraguaio.
Cartes, no entanto, desconversou sobre a possibilidade que o retorno do país ao Mercosul se dê antes do fim da presidência temporária da Venezuela no bloco, em dezembro. "Vai demorar um pouquinho, porque eles têm de achar uma maneira [de resolver o problema]", disse.
Quando o Paraguai já estava suspenso, os senadores chegaram a rejeitar, em votação, a adesão de Caracas mas a decisão não foi nem considerada pelo bloco.
Teoricamente, o Congresso paraguaio teria de, novamente, submeter à votação a adesão, no seu retorno.
Cartes destacou, contudo, a "predisposição" de seu governo em conversar com os países do Mercosul.
"Para nós o Paraguai nunca saiu do Mercosul, mas não é o momento de entrar nessa briga", disse. "A única coisa em que concordamos, todos os presidentes [durante a posse], é que estar sozinho no mundo de hoje é como não existir. O que temos de fazer é trabalhar em harmonia, buscar interesses comuns."
Cartes, que é um dos maiores empresários do Paraguai, disse ainda esperar que os mercados comuns, como o Mercosul, estipulassem "metas realizáveis". "Para que não tenhamos frustração de dizer que o mercado comum não serve para nada."
Carta
O paraguaio disse que não recebeu a carta enviada pelo colega venezuelano, Nicolás Maduro, em que ele pede o retorno do país ao Mercosul. "Também li que houve uma carta, mas não a recebi, porque é mais midiática", disse.
O documento, assinado por Maduro, foi considerado pelo governo brasileiro uma "pista" de que os dois países poderiam estar no caminho da reconciliação.