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Raul Castro durante reunião da Assembléia Nacional, em Havana: abertura à iniciativa privada | Desmond Boylan/Reuters
Raul Castro durante reunião da Assembléia Nacional, em Havana: abertura à iniciativa privada| Foto: Desmond Boylan/Reuters

Análise - "País faz medidas cosméticas"

As medidas anunciadas ontem pelo presidente Raúl Castro não devem ter efeito significativo sobre a economia cubana, de acordo com a avaliação do historiador Marco Antônio Villa, professor da Universidade Federal de São Carlos.

"Não são essas pequenas medidas que farão a economia cubana ter eficiência. O mal é a estatização, o controle pelo estado das principais atividades econômicas, além da burocracia e da repressão política", afirma Villa.

O historiador lembra que a situação econômica do país comunista é complicada desde 1990, com o fim da ajuda soviética. "Na última década, Cuba sobrevive graças a ajuda venezuelana, ou seja, só por ajuda externa a fundo perdido, o que mostra o mal funcionamento da economia", contextualiza.

Diante desse panorama, liberar alguns pequenos negócios e a comercialização de algumas produções seria como "tratar um doente gravemente enfermo com analgésico", compara Villa. Para o estudioso, as mudanças vêm, sobretudo, "para americano ver", aparentando que reformas estão sendo feitas.

"O país faz medidas mais cosméticas, esperando que de alguma forma a economia socialista volte a ser mais forte. Mas está fadado ao fracasso", prevê.

Luciana Romagnolli

Havana - O presidente de Cuba, Raúl Cas­­tro, autorizou ontem a abertura de pequenos negócios e a contratação de mão de obra particular para reduzir o número de empregados no setor estatal do país e estimular o trabalho por conta própria.

O Conselho de Ministros "concordou em ampliar o exercício do trabalho privado e sua utilização como alternativa para criar empregos aos", disse Raúl ao en­­cerrar a primeira sessão ordinária anual do Parlamento.

A decisão elimina "várias proibições vigentes para a concessão de novas licenças e a comercialização de algumas produções, flexibilizando a contratação de força de trabalho", explicou o presidente.

Raúl Castro anunciou ainda que no primeiro trimestre de 2011 será implantado um novo sistema de trabalho e pagamento – sobre o qual não deu detalhes – para os "funcionários excedentes nas estruturas do governo".

De acordo com o governo cubano, as novas medidas suprimem "os enfoques paternalistas que desestimulam a necessidade de se trabalhar para viver, reduzem os gastos improdutivos (...) e combatem a garantia salarial durante longos períodos para pessoas que não trabalham".

Em Cuba, 95% da economia é controlada pelo Estado, mas o trabalho privado foi aprovado nos anos 90 para uma série de atividades, como parte das reformas para enfrentar a crise desatada pela queda do bloco soviético e o endurecimento do embargo dos Estados Unidos. A concessão de licenças para a atividade privada estava congelada há vários anos e no final de 2009 apenas 148 mil cubanos, de uma força de trabalho total de cinco milhões, exerciam legalmente uma atividade não vinculada ao Estado.

De acordo com Raúl Castro, a primeira fase do processo de liberalização deve ser concluída no primeiro trimestre do ano que vem, com a modificação do regime de trabalho e de salário de alguns organismos da administração central do Estado.

Modelo

O ministro da economia, Ma­­rino Murillo, disse que a ilha co­­munista está "atualizando", mas não está reformando sua frágil economia e não pretende copiar o mercado socialista da China ou do Vietnã.

"Achamos que hoje em dia, o estado tem um grupo de atividades das quais precisa se desfazer. O estado não tem que ser responsável por tudo," afirmou o ministro. "O estado tem que ser responsável pela economia, das coisas mais importantes," acrescentou.

Murillo deu como exemplo as pequenas barbearias, onde há diversos meses os barbeiros tiveram permissão para alugar suas cadeiras e cobrar seus próprios preços, em vez de ter o governo administrando o seu negócio. Esse tipo de mudança "deve ser aplicada a outros serviços", de acordo com o ministro.

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