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O ex-líder soviético Mikhail Gorbachev fez um apelo ao Kremlin para que a Rússia se torne um país mais democrático, dizendo que, se isso não acontecer, o esforço do presidente Dmitri Medvedev para modernizar o país não será bem sucedido.

Gorbachev, autor de reformas ousadas, que levaram ao colapso da União Soviética, em 1991, disse à Reuters que a Rússia agora precisa de uma nova onda de "glasnost" (abertura) e "perestroika" (reestruturação).

"A modernização pode acontecer, mas só se o povo, toda a população for incluída no processo", disse Gorbachev à Reuters durante uma entrevista de 90 minutos nos escritórios da sua fundação, em Moscou.

"Precisamos da democracia, precisamos que o sistema eleitoral melhore, entre outras coisas. Sem isso, não poderemos ser bem sucedidos", ele disse.

O chamado de Gorbachev veio no momento em que um número cada vez maior de membros da elite russa clamam por uma reforma política para acompanhar os esforços de modernização e diversificação de uma economia dependente do petróleo.

Aos 79 anos, o ex-líder soviético está mais gordo, fala baixinho e mais lentamente e a mancha de nascença na sua cabeça está mais desbotada.

Ativo no exterior, ele se mantém discreto na Rússia e fala francamente sobre a sua decepção, pelo fato dos seus compatriotas não terem uma melhor opinião sobre ele. Ele patrocina um pequeno partido pró-democracia e um jornal radical de oposição, em Moscou.

Gorbachev disse que a Rússia ficou atrás das grandes potências e comparou a dependência do país da receita vinda do petróleo e sua inabilidade de construir uma economia competitiva com a situação que ele herdou quando se tornou o líder soviético, em 1985, aos 54 anos.

"Modernização é a palavra chave", ele disse. "Se você lembra, a perestroika começou quando nós percebemos o quanto havíamos ficado para trás. A Rússia está vivendo agora desafios muito sérios, principalmente em relação à tecnologia."

O boom de uma década vivido pela Rússia, alimentado pelos altos preços do petróleo e empréstimos estrangeiros, estagnaram em 2008, com a chegada da crise financeira global. A economia do país encolheu 7,9 por cento em 2009, em seu pior desempenho anual desde 1994.

Medvedev já disse que a gravidade da recessão mostra que a Rússia precisa de um grande esforço de modernização.

Diplomatas têm elogiado as suas fortes críticas aos problemas do país, mas dizem que na metade do seu mandato ele ainda precisa abrir o extremamente rígido sistema político, criado por seu mentor, Vladimir Putin, ou combater a corrupção desenfreada e a burocracia.

Gorbachev disse que o presidente Dmitri Medvedev, de 44 anos, e o primeiro ministro Vladimir Putin, de 57 anos, entenderam os desafios que eles enfrentam e foi cuidadoso aos não citar nenhum dos dois líderes nominalmente, ao fazer sua crítica.

Apesar de ser pouco popular em casa, por ter permitido o colapso do império soviético, Gorbachev é festejado no ocidente por ter ignorado os políticos de linha dura que o aconselharam a esmagar a crescente dissidência das nações do bloco oriental, que levaram à queda do muro de Berlim, em 9 de novembro, de 1989.

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