Ainda que um pouco dividida, a imprensa francesa considerou François Hollande o ganhador do debate presidencial desta quarta-feira (2). Para os jornais, o socialista se saiu melhor do que o esperado no confronto com Nicolas Sarkozy classificado como vivo, rápido e tenso.
Em entrevista à rádio RTL, o conservador afirmou que a votação de domingo está "mais aberta" após o debate na TV. O presidente disse ainda que "há semanas, as pesquisas mentem" e que "nunca uma eleição esteve tão indecisa". Do outro lado, Hollande afirmou que cabe aos franceses decidir quem ganhou o "áspero" debate.
"Tensão" foi a palavra usada pelo jornal de esquerda "Libération" em sua reportagem. Título próximo ao do "Le Figaro", considerado o meio de comunicação mais próximo a Sarkozy: "Alta tensão. Nicolas Sarkozy e François Hollande propuseram duas visões da sociedade francesa em um clima tenso".
Em seu editorial ("O antigo e o moderno"), o jornal conservador mostra que Sarkozy tem claras dificuldades para alcançar a vitória no domingo. "Todos os governantes que, na Europa, desde 2008, tiveram que enfrentar uma eleição, ficaram nessa posição. E todos perderam", sentencia. O jornal, contudo, sai em ajuda ao presidente destacando que Hollande nunca teve responsabilidades enquanto Sarkozy foi presidente nos piores anos da crise e, por isso, o socialista chamou os espectadores para apresentar o mandatário como culpado por todos os males da França, como a dívida e o desemprego.
O "Le Figaro" se distancia do debate para julgar o discurso de Hollande (que se resume basicamente em impostos e redistribuição) como ultrapassado, simples e inútil. "Era papel de Sarkozy lembrar seu rival que o mundo mudou desde que os socialistas deixaram o poder". Para o diário, Hollande é o chefe de uma esquerda "que tem mais talento para falar do passado que para imaginar o futuro enquanto Sarkozy provou que quem sai do poder pode ser mais moderno que quem aspira substitui-lo.
No outro extremo ideológico, o "Libération" dá como manchete: "François Hollande preside o debate. O candidato do PS, fortalecido, Nicolas Sarkozy, na defensiva". E continua: "Os dois finalistas às eleições presidenciais tinham um desejo conhecido de ir para batalha". Para o jornal, Sarkozy atacou como um lutador, mas também ficou muito na defensiva.
Enquanto isso, o jornal considera que Hollande, "notavelmente mais sereno", ficou longe de mostrar a pressão e atacar o oponente. O "Liberátion" afirma ainda que o grande paradoxo de Sarkozy é ter se negado a fazer um balanço de seu mandato e que, em um cenário de debate com tom de confronto, Hollande conseguiu marcar bem sua posição.
Para 'Le Monde', Hollande começou e terminou como favorito
Já no "Le Monde", o editorialista François Fressoz analisou que o debate não teve um ganhador claro nem vai mobilizar muito a opinião dos indecisos. Para ele, Hollande não se deixou dominar por Sarkozy, que só conseguiu colocá-lo em apuros com o tema da imigração, apesar de ter tentado o mesmo com a energia nuclear.
"Como Hollande começou na posição de favorito, pode-se dizer que permanece nela", acredita o editorialista. Fressoz destaca também a tentativa de Sarkozy de atrair eleitores de Le Pen, enquanto o socialista o acusava de dividir os franceses mesmo se denominando o presidente da unidade. Para o analista, Hollande deu segurança e não a impressão do que poderia ser sua maior deficiência: a inexperiência. E quando Hollande disse, repetidas vezes, "eu, o presidente da República", Sarkozy foi incapaz de pará-lo e acusá-lo de arrogante.
O presidente usou o tempo todo o fato de ser o chefe de Estado e esse foi seu erro, crê Fressoz, já que não fez propostas. Fora isso, se Sarkozy vinha tentando dedicar suas últimas semanas a conquistar os eleitores de Marine Le Pen, na noite desta quarta-feira, fez guinadas à direita e ao centro, correndo o risco de se mostrar menos convincente para as duas parcelas do eleitorado.
O jornal católico "La Croix" destaca a luta de Sarkozy para bater seu oponente e ganhar os votos dos indecisos. Diferente dos outros veículos, o "La Croix" acredita que Sarkozy conseguiu por o socialista na defensiva. Entretanto, sua conclusão não beneficia o presidente: "O chefe de Estado poderia ter marcado pontos, sem dúvidas, mas seu domínio não foi tão decisivo para inverter a tendência instalada nestas eleições presidenciais onde está em posição de desvantagem".
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