Negociação avança pouco
Apesar dos representantes brasileiros e paraguaios da comissão binacional que discute o Tratado de Itaipu avaliarem como positivos os avanços nas negociações, eles admitiram ontem que ainda há muito a se discutir sobre três pontos principais: o acordo para a livre disponibilidade para a comercialização do excedente produzido com abertura para negociação direta no mercado brasileiro , o preço pago ao país vizinho pela energia excedente e a revisão da dívida de quase US$ 20 bilhões. Reunida ontem durante mais de sete horas na sede da hidrelétrica, em Foz do Iguaçu, a comissão não avançou em nenhum dos três pontos. As negociações esbarram num "conflito de interpretações", como classificou o ministro interino de Minas e Energias, Márcio Pereira Zimmermman.
Brasília - O Paraguai quer ter liberdade para negociar diretamente no mercado brasileiro a parte da energia de Itaipu que lhe cabe. A afirmação foi feita ontem pelo vice-ministro das Relações Econômicas e de Integração do Paraguai, Oscar Rodríguez Campuzano. "Queremos negociar Itaipu no mercado brasileiro, mas negociando nós mesmos, diretamente, e não por Furnas", disse o ministro ao sair da VII Reunião Extraordinária do Conselho do Mercado Comum, em Brasília.
Os paraguaios estão atualmente negociando com o governo brasileiro o reajuste do preço que recebem pela energia de Itaipu. Mas, para o ministro, conseguir a livre disponibilidade da energia de Itaipu é até mais importante que discutir preço. Os paraguaios também cobram o direito do país de revender a energia a terceiros o que o tratado proíbe.
O Paraguai tem direito à metade da energia da hidrelétrica, mas usa apenas 5%. O restante é revendido no Brasil por meio da estatal Furnas. A energia é revendida a um conjunto de distribuidoras brasileiras que têm cotas compulsórias para a compra da energia da hidrelétrica. "Hoje não participamos da venda. Só recebemos o repasse de recursos que não representa o valor da energia. Queremos negociar diretamente no mercado do Brasil", disse.
Campuzano disse que não vê relações entre a negociação de Itaipu e as ameaças a fazendeiros brasileiros que atuam no Paraguai, os chamados "brasiguaios". "A mim até me surpreende que haja uma relação de Itaipu com os brasiguaios. Não há fundamento relacionar uma coisa com outra", disse. Na semana passada, o Itamaraty chegou a sinalizar que a onda de violência contra os brasiguaios poderia afetar as negociações sobre Itaipu.
Policiamento
Ontem, o governo paraguaio anunciou um reforço de policiamento em várias regiões agrícolas do país para garantir o início do plantio de soja. O esforço será concentrado no departamento de San Pedro (norte) e nas propriedades dos produtores brasileiros, os brasiguaios.