Organizações de sem-terra paraguaias afirmaram nesta terça-feira que continuarão a invadir fazendas de brasileiros que produzem soja. Ao mesmo tempo, o governo do presidente Fernando Lugo insiste que não tem dinheiro para fazer a reforma agrária no país imediatamente.

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"O governo é fraco para desalojar os latifundiários estrangeiros, portanto, por nossa conta e responsabilidade até poderíamos expulsar os colonos brasileiros do território nacional", disse Elvio Benítez, secretário da associação Produtores San Pedro Norte, em entrevista coletiva.

O dirigente de campesinos advertiu que prosseguirão as invasões às fazendas de soja. Ele ressaltou que "os campesinos não somos guerrilheiros nem terroristas". "Não precisamos da guerrilha para lutar, para isso temos o povo e fortaleza moral. Para reivindicar a soberania paraguaia sobre o território somente precisamos de mobilizações populares pacíficas, bloquear rodovias nacionais e convocar grandes greves", afirmou Benítez.

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O clima de tensão, com posições aparentemente irreconciliáveis em relação às fazendas de soja, fez com que o presidente convocasse na terça-feira representantes dos camponeses e agropecuaristas para uma reunião, informou o ministro da Agricultura e Pecuária, Cándido Vera.

"O governo não tem como financiar a reforma agrária. Não há dinheiro no Ministério da Agricultura nem no Instituto do Desenvolvimento Rural e da Terra (Indert)", disse Vera. Ele disse que a reunião é para "pacificar os ânimos" mas ressaltou que não existe dinheiro para fazer a reforma agrária agora.

O ministro da Economia, Dionisio Borda, confirmou o problema. Segundo ele, é preciso uma verba extra de US$ 150 milhões para a assistência aos camponeses pobres e a luta contra a pobreza extrema. "Avaliamos a possibilidade de estabelecer um imposto temporário para a exportação de soja", apontou Borda. Segundo ele, existem no orçamento do governo apenas US$ 7 milhões para essas finalidades.

Em outra entrevista coletiva, o presidente da Associação Rural do Paraguai, Juan Néstor Núñez, deu declarações duras: "Temos 50 propriedades agropecuárias ameaçadas por invasões de campesinos", afirmou. "Como o governo de Lugo não tem firmeza para frear as entradas ilegais e garantir a segurança de nossa produção, teremos que pegar em armas para nos defendermos."

Borda anunciou que como medida de urgência para fazer caixa o governo do Paraguai emitirá bônus do Tesouro, nos próximos meses, para levantar US$ 100 milhões. Ele não deu mais informações sobre os vencimentos e taxas de juros que os títulos pagarão.

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Após a morte do camponês Bienvenido Mereles em um choque com policiais paraguaios durante a expulsão de invasores de uma lavoura de soja, propriedade do brasileiro Oscar Faver, o governo informou na segunda-feira que nenhum estrangeiro poderá comprar terras para a agricultura no país.

Com uma produção de 6 milhões de toneladas em 2007, o Paraguai é o terceiro maior produtor de soja da América do Sul, atrás de Brasil e Argentina, e o sexto do mundo. As informações são da Associated Press.