1989 foi o ano em que acabou a ditadura de Alfredo Stroessner, com um golpe de Estado que colocou Andrés Rodriguez, outro militar, no poder.
1993 marcou o fim da presidência de Rodriguez, que transformou em lei a nova Constituição e abriu caminho para um processo democrático.
Primeiro
Depois que Andrés Rodriguez (1923-1997) saiu do poder, quem assumiu foi Juan Carlos Wasmosy, do Partido Colorado, o primeiro presidente civil a governar o Paraguai em quase 40 anos. Wasmosy tem 75 anos.
Colorado
A domínio do Partido Colorado na política paraguaia é acachapante. Nomes ligados ao partido comandaram o país por mais de seis décadas. A exceção foi Fernando Lugo (2008-2012), que sofreu impeachment.
Qual é sua opinião sobre a política paraguaia e sobre a forma como ela ignora os crimes da ditadura Stroessner?
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No Paraguai, os crimes cometidos pelo regime de Alfredo Stroessner (1912-2006) jamais foram punidos. Na última segunda-feira, dia 3, fez 25 anos que a ditadura de Stroessner acabou ele governou o país entre 1954 e 1989 e pessoas ligadas às vítimas afirmam que a impunidade continua porque setores políticos e econômicos que se beneficiaram com os militares ainda estão no poder.
Diferente de outros países do Cone Sul, o Paraguai nunca teve lei de anistia, apesar de que os abusos estão muito bem documentados graças a mais de dois mil depoimentos e a três toneladas de arquivos oficiais que detalham violações dos direitos humanos tanto no seu território quanto em países vizinhos.
Mesmo assim, enquanto em países como a Argentina e o Chile há investigações ativas sobre crimes cometidos durante as respectivas ditaduras, no Paraguai os processos estão parados há décadas.
Uma dessas ações foi movida por Martín Almada, um pedagogo e grande ativista dos direitos humanos no país, processo aberto em maio de 1989, poucos meses depois da saída de Stroessner num golpe de Estado orquestrado pelo consogro, e que encerrou quase 35 anos de governo, o mais duradouro da história da América Latina.
Almada foi detido sob acusação de terrorismo, depois de escrever um estudo sobre educação. Ele sobreviveu. A mulher dele sofreu um ataque cardíaco depois de ouvir, por telefone, o marido sendo torturado e de receber roupas ensanguentadas. "Meu processo ainda está parado", disse Almada, que foi libertado graças à pressão internacional e se exilou. "Stroessner não se foi. O sistema ficou."
Almada dirige a Fundação Celestina Pérez de Almada, batizada em homenagem à mulher e dedicada a lembrar o que aconteceu no país nos anos de chumbo.
"Grande parte das fortunas do país foram acumuladas na época de Stroessner, graças ao favoritismo político e a negócios ilegais", disse Juan Rivarola, assessor jurídico da Direção Geral de Verdade, Justiça e Reparação do Paraguai, entidade sucessora da Comissão de Verdade e Justiça (CJV).
História implica partido político em barbaridades Paraguai continua sendo controlado pelo Partido Colorado, conservador, um dos pilares do regime militar ao se transformar em um mecanismo de controle político cujo alcance, segundo o historiador Andrew Nickson, chegava a todos os cantos do país. Em 1986, o partido tinha oficialmente 1,3 milhão de membros, de um total de 1,4 milhão de eleitores. O controle era tanto que os torturadores não escondiam o rosto e os funcionários do regime deixavam registrados em papel suas violações aos direitos humanos, muitos dos quais formaram os chamados "Arquivos do Terror", achados pelo pedagogo Martín Almada em 1992. A Comissão de Verdade e Justiça comprovou a existência de 425 executados ou desaparecidos durante a ditadura e quase 20 mil detidos, a grande maioria vítima de tortura. Acredita-se que 10 mil presos políticos passaram por uma casa comum do centro de Assunção onde operava a Direção Nacional de Assuntos Técnicos, incluindo Almada. Hoje, ela é um lugar silencioso chamado Museu das Memórias. Em exibição há um aguilhão usado para dar choque elétrico, varas para surras e uma bola com pontas para bater nas costas. O Paraguai só condenou dez policiais por crimes durante a ditadura, em processos realizados pouco após seu fim. Diante da falta de avanços, 13 vítimas paraguaias abriram no ano passado um processo na Argentina, pelo qual o magistrado pediu à Justiça paraguaia que explicasse se está investigando os fatos ou não. Três meses depois, ainda não houve resposta.
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