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O grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (FAR) afirmou neste sábado (15) que controla o Palácio Presidencial do Sudão, onde reside o presidente do Conselho Soberano e líder militar, Abdel Fattah al Burhan, embora o seu destino seja desconhecido.
As unidades, chefiadas pelo vice-presidente do Conselho Soberano e número dois do Exército, Mohamed Hamdan Dagalo, vulgo "Hemedti", indicaram que a ação é uma resposta ao "ataque lançado esta manhã pelas Forças Armadas" aos campos de Soba, no sul de Cartum. Os dois líderes militares protagonizaram o golpe de 2021 no país para derrubar os civis do poder e agora disputam o comando.
Segundo um comunicado das FAR, o grupo controla o Palácio Presidencial e a casa de hóspedes, bem como o aeroporto internacional de Cartum, o maior do país; o de Marawi, no norte do Sudão e na fronteira com o Egito, e o de Al Obeid, no sul do país.
"O que o Comando das Forças Armadas e vários oficiais fizeram representa uma clara violação contra as nossas forças, que se comprometeram com a paz e exerceram a contenção", disseram as FAR no comunicado, no qual também tentaram acalmar os cidadãos do Sudão, garantindo que "estão a salvo e que a situação está sob controle”.
Por sua vez, o Exército sudanês negou que as FAR controlem o Palácio Presidencial e garantiu que já existem desertores nas fileiras das unidades rivais. "As Forças de Apoio Rápido espalham notícias falsas de fora do Sudão e reivindicam o controle do Comando Geral e do Palácio da República", disseram as Forças Armadas sudanesas em comunicado.
Da mesma forma, em outra nota, as Forças Armadas sudanesas afirmaram que estão enfrentando "a agressão brutal" das FAR e que vão proteger o país de "sua traição". A Força Aérea sudanesa começou a bombardear posições das FAR no Sudão, na tentativa de repelir a "agressão" do que descreveu como uma "milícia rebelde", iniciada esta manhã após o Exército sudanês atacar o quartel-general de uma unidade rival.
Há dois dias, o Exército sudanês havia alertado que o país atravessava uma "conjuntura perigosa" que pode levar a um conflito armado depois que unidades das FAR, o grupo paramilitar mais poderoso do Sudão, "se mobilizaram" na capital Cartum e em outras cidades. "Hemedti" expressou nesta sexta sua disposição de buscar uma solução para a tensão gerada sem "derramamento de sangue", segundo autoridades sudanesas que atuam como mediadores entre os militares.
Essa mobilização ocorre em meio às negociações para chegar a um acordo político definitivo que ponha fim ao golpe de 2021 e conduza o Sudão a uma transição democrática, pacto cuja assinatura foi adiada duas vezes neste mês de abril justamente por conta das tensões entre o Exército e as FAR. As FAR surgiram das milícias Yanyawid, acusadas de cometer crimes contra a humanidade durante o conflito de Darfur (2003-2008).
O enviado especial da missão das Nações Unidas no Sudão, Volker Perthes, "condenou energicamente a eclosão dos combates no Sudão" e pediu a "cessação imediata" das hostilidades entre o Exército e o grupo paramilitar. "O representante Perthes se comunicou com ambas as partes para pedir que cessem imediatamente os combates e garantam a segurança do povo sudanês e evitem que o país sofra mais violência", disse a missão da ONU em um breve comunicado.