O trabalho da advogada paranaense Maria Carolina Marques Ferracini está amarrado a questões humanitárias, envolve os direitos das mulheres e combate uma lista de absurdos cometidos contra elas.
O que a move é, em três palavras: senso de missão. "Os temas me escolheram", diz, em entrevista por e-mail para a Gazeta do Povo.
A londrinense Maria Carolina está em Uganda, onde trabalha como consultora para o Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (também chamado de ONU Mulheres), com o propósito de implantar um programa de auxílio em território ugandense.
"Eu coordenei as ações pela igualdade de gênero, que tinham de ser implementadas de forma estratégica por meio de parcerias entre as agências da Organização das Nações Unidas [ONU], ministérios e os movimentos da sociedade civil", explica.
Maria Carolina tem 34 anos, estudou Direito na Universidade Estadual de Londrina e fez mestrado e doutorado em Milão, na Itália, estudando o tema a "igualdade de oportunidades".
Além de atuar na ONU Mulheres, em Uganda, trabalhou como consultora e funcionária da Organização Internacional do Trabalho (OIT), outra agência ligada à ONU, e para o escritório africano da Confederação Internacional dos Sindicatos Livres. O estágio na OIT, em 2003, a levou para Bruxelas e para a equipe da Comissão Europeia. "Sabe o lugar certo na hora certa?", diz.
Insônia
No papel de consultora, Maria Carolina teve de lidar com informações assustadoras. "As estatísticas de estupro e abuso sexual de crianças me tiraram algumas noites de sono", lembra.
Entre os problemas mais incômodos que encontrou em Uganda, onde vive há um ano, está a mutilação genital feminina. "Ela é uma prática bastante comum e está relacionada a mitos sobre a sobrevivência das meninas e ao valor social delas, principalmente enquanto potenciais esposas", explica. "É extremamente difícil enfrentar esse problema: a criminalização está longe de ser suficiente, mas está finalmente aparecendo nas legislações." Em Uganda, a lei que fez da mutilação um crime é de 2009.
Objetividade
Às vezes, realidades duras acabam criando uma casca-grossa em quem é obrigado a conviver com elas. No entanto, Maria Carolina diz que não perdeu a capacidade de se indignar. "Tenho esse senso forte de missão. Mas ficar chocada com o que acontece tira a objetividade e influencia a qualidade do trabalho porque qualquer coisa, para funcionar, precisa ser feita a partir da perspectiva externa. Acho que aprendi a me relacionar com os absurdos com uma espécie de paciência, com a lucidez de escolher as minhas batalhas."
Fé
Essas experiências diminuíram sua fé no ser humano? "Tenho fé no ser humano, mas ela mudou. Ficou menos idealizada", diz a advogada, que defende a ideia de que cada pessoa pode assumir a responsabilidade sobre a própria vida, por pior que ela tenha sido (ou ainda seja).