Trabalho
Cartilha escrita pela advogada inspira curso levado para 15 países
Além da experiência na África, Maria Carolina trabalhou por oito anos na Organização Internacional do Trabalho (OIT), uma agência das Nações Unidas na Europa dedicada a causas ligadas à exploração sexual e ao tráfico humano.
Em 2007, a cartilha Passaporte para Liberdade: um Guia para Brasileiras no Exterior, de autoria da advogada, passou a ser distribuída em países como Portugal, Espanha, Holanda e Itália.
Diálogo
"Não era uma abordagem contra o trabalho sexual em si, mas buscava conscientizar as mulheres sobre a exploração do trabalho sexual e como essa exploração, somada à clandestinidade num país estrangeiro, limita a possibilidade de um trabalho decente produtivo, com direitos mínimos, como segurança física e econômica, num quadro de diálogo social", explica. A cartilha deu origem a cursos em consulados brasileiros de 15 países europeus.
Mapa
Ela mesma ministrou cursos em uma quantidade impressionante de nações, da Angola à Romênia, passando por Bulgária, Moçambique e Nepal. Formou oficiais de governos, ligados aos Ministérios do Trabalho, sindicalistas e organizações internacionais em países em desenvolvimento.
Atualmente, na consultoria para ONU Mulheres, Maria Carolina participa da formação sobre a auditoria participativa de gênero para sindicalistas dos países lusófonos (falantes da língua portuguesa) na África.
O trabalho da advogada paranaense Maria Carolina Marques Ferracini está amarrado a questões humanitárias, envolve os direitos das mulheres e combate uma lista de absurdos cometidos contra elas.
O que a move é, em três palavras: senso de missão. "Os temas me escolheram", diz, em entrevista por e-mail para a Gazeta do Povo.
A londrinense Maria Carolina está em Uganda, onde trabalha como consultora para o Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (também chamado de ONU Mulheres), com o propósito de implantar um programa de auxílio em território ugandense.
"Eu coordenei as ações pela igualdade de gênero, que tinham de ser implementadas de forma estratégica por meio de parcerias entre as agências da Organização das Nações Unidas [ONU], ministérios e os movimentos da sociedade civil", explica.
Maria Carolina tem 34 anos, estudou Direito na Universidade Estadual de Londrina e fez mestrado e doutorado em Milão, na Itália, estudando o tema a "igualdade de oportunidades".
Além de atuar na ONU Mulheres, em Uganda, trabalhou como consultora e funcionária da Organização Internacional do Trabalho (OIT), outra agência ligada à ONU, e para o escritório africano da Confederação Internacional dos Sindicatos Livres. O estágio na OIT, em 2003, a levou para Bruxelas e para a equipe da Comissão Europeia. "Sabe o lugar certo na hora certa?", diz.
Insônia
No papel de consultora, Maria Carolina teve de lidar com informações assustadoras. "As estatísticas de estupro e abuso sexual de crianças me tiraram algumas noites de sono", lembra.
Entre os problemas mais incômodos que encontrou em Uganda, onde vive há um ano, está a mutilação genital feminina. "Ela é uma prática bastante comum e está relacionada a mitos sobre a sobrevivência das meninas e ao valor social delas, principalmente enquanto potenciais esposas", explica. "É extremamente difícil enfrentar esse problema: a criminalização está longe de ser suficiente, mas está finalmente aparecendo nas legislações." Em Uganda, a lei que fez da mutilação um crime é de 2009.
Objetividade
Às vezes, realidades duras acabam criando uma casca-grossa em quem é obrigado a conviver com elas. No entanto, Maria Carolina diz que não perdeu a capacidade de se indignar. "Tenho esse senso forte de missão. Mas ficar chocada com o que acontece tira a objetividade e influencia a qualidade do trabalho porque qualquer coisa, para funcionar, precisa ser feita a partir da perspectiva externa. Acho que aprendi a me relacionar com os absurdos com uma espécie de paciência, com a lucidez de escolher as minhas batalhas."
Fé
Essas experiências diminuíram sua fé no ser humano? "Tenho fé no ser humano, mas ela mudou. Ficou menos idealizada", diz a advogada, que defende a ideia de que cada pessoa pode assumir a responsabilidade sobre a própria vida, por pior que ela tenha sido (ou ainda seja).
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