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Oriente em guerra

Paranaenses buscam socorro

Curitiba – Duas famílias paranaenses presas no Líbano por causa do conflito entre Israel e forças do Hezbollah estão sofrendo com a falta de respaldo do governo brasileiro. Ambas têm a intenção de deixar o país, mas não conseguem contato com o Consulado-Geral do Brasil em Beirute. O casal Abdul e Salma Chebli e os três filhos, Adel, 24 anos, Lina, 21, e Ale, 16, moram no Líbano desde 1996, em Tiro, uma das regiões mais atingidas pelos bombardeios israelenses. O filho mais velho é o único que não está na área de conflito, atualmente em viagem pela Venezuela.

"Eu estava conseguindo contato com a embaixada brasileira pela internet, mas cortaram nossa conexão no domingo", conta Salma, enfermeira formada pela UFPR e funcionária de um hospital pediátrico de Tiro. "Depois disso, tenho tentado ligar para o Consulado, mas só dá ocupado. Do meu prédio de três andares, só nós e minha vizinha do andar de cima ainda continuamos aqui, o resto fugiu para a casa de um parente em algum país da região, no Kuwait ou na Síria. Mas nós não temos para onde ir e também não conseguimos informações sobre como os brasileiros estão deixando o país", diz. "Por outro lado, nem todos que fugiram tiveram sorte nas estradas, e alguns acabaram morrendo. A essa altura, não sabemos o que é mais seguro, se sair ou ficar aqui. Estamos em casa 24 horas por dia e rezando para não sermos bombardeados", relata Salma. Segundo ela, bombas já caíram a menos de dois quilômetros do local onde residem.

A família do comerciante Mohamad Jebai, de Foz do Iguaçu, também sente na pele a falta de apoio do governo brasileiro. A mãe, a mulher e o filho de Jebai, de dois anos, foram passar as férias de julho no Líbano. "Eles chegaram a Beirute uma noite antes de começar o conflito", conta Mohamed, que ficou no Brasil.

Ele conversou com a mulher por telefone na tarde de ontem. "Ela está com alguns parentes na cidade de Bhamdoun, no meio do caminho entre Beirute e a fronteira da Síria. É a terceira vez que eles mudam o local de estadia. A intenção deles é seguir para a Síria e de lá tentarem um vôo de volta ao Brasil. O problema é que eles não podem simplesmente pegar o carro e sair. Tem que ter um plano, alguém que conheça as estradas e os desvios pelo interior do país, porque as vias principais são inviáveis", afirma Jebai.

A reportagem tentou entrar em contato com Amal Jebai, esposa do comerciante, mas a ligação não foi completa em nenhuma das tentativas. "Tento ligar várias vezes ao dia, mas é dificil conseguir contato, tem que ter sorte", conta o marido. Para ele, o governo brasileiro não precisa financiar o retorno dos brasileiros ao país, mas deve organizar uma maneira segura de seus cidadãos saírem do Líbano.

"Acho que para quem foi passar férias, dinheiro não é o problema. O governo brasileiro tem que dar assistência no sentido de ter um pessoal para orientar os brasileiros em Beirute e em Damasco, elaborando uma fuga segura, sem riscos. Apenas mandar um avião buscar brasileiros na Turquia não resolve o problema. Minha mulher tenta contato com o Consulado em Beirute desde sábado e não consegue", afirma.

A assessoria de imprensa do Itamaraty diz que não possui informações sobre casos específicos de brasileiros no Líbano e afirmou que todos devem continuar tentando contato com o Consulado-Geral do Brasil em Beirute. Ainda de acordo com a assessoria, além do vôo que traria brasileiros de volta ao país na noite de ontem (veja texto ao lado), o governo brasileiro deve enviar mais um avião de resgate, mas a data deste vôo ainda não foi confirmada.

Para os familiares quem acompanham o drama do Brasil, os dias têm sido tensos. "Fico nervoso, tento ligar em casa, no celular, e não consigo. A internet eu sei que não está mais funcionando. Temos que rezar e esperar que não aconteça o pior", diz o advogado Toufic Bark, morador de Curitiba e irmão de Salma.

"Eu não nasci no Brasil, vim do Líbano e já vivi em épocas de guerra lá. Mas minha mulher e meu filho nunca passaram por nada disso. Eles nunca tinham ouvido o som do uma bomba, e agora vêem os aviões israelenses sobrevoarem os locais onde estão dormindo, sem saber o que pode acontecer", lamenta Jebai.

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