Humilhação

Um dos músicos envolvidos pensa em voltar ao Brasil

Após a agressão dos policiais da Scotland Yard, Herigo Fabrício Correa Anselmo avalia que uma alternativa para tentar esquecer o trauma vivenciado com os outros paranaenses deve ser o retorno ao Brasil. "Penso em voltar para o meu país o mais rápido possível, mas temos que acompanhar as investigações", diz.

A situação, segundo o jovem, gerou apreensão. "O problema não são apenas as lesões. O pior é o psicológico. Quando estou na rua e escuto um barulho já imagino que é a polícia me perseguindo", define.

Vivendo há dois anos e meio em Londres, Herigo trabalha na construção civil. A família, que vive em Cambé (norte do Paraná), soube da agressão nesta semana. "Ficamos preocupados, já que ele nunca teve problemas fora do país antes", assinala a madrasta do rapaz, Cíntia Anselmo.

O outro apucaranense envolvido, Adiel Henrique Miguel, relata que a abordagem violenta da Scotland Yard o deixou em choque. "Foi muito constrangedor porque não esperávamos isso. Estávamos voltando da igreja e foi perto de casa. Lembramos do caso do Jean Charles e pensamos: será que vai acontecer alguma coisa?".

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Medo

Agressão policial choca familiares

Morador de Salto (SP), Adiel Henrique Miguel estava acompanhado da irmã de 15 anos durante a agressão. Ambos permanecem em Londres como turistas. A mãe deles possui cidadania italiana e também está na Inglaterra. O tio de Adiel, Silso Miguel Júnior, de Arapongas, conta que a família soube do ocorrido somente ontem. "A avó dele, que mora no distrito de Pirapó, em Apucarana, ouviu a notícia no rádio e ficou muito nervosa. Fomos todos pegos de surpresa, mesmo sendo tudo por engano".

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Faltando menos de três meses para completar o quinto aniversário da morte do mineiro Jean Char­­les, confundido com um terrorista no metrô inglês, a Scotland Yard, polícia de Londres, está ligada a mais um caso truculento en­­volvendo brasileiros. Desta vez, a corporação londrina é denunciada por quatro músicos paranaenses, que foram agredidos pelos po­­liciais. Dois deles são de Apu­­carana.

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Os apucaranenses Herigo Fa­­brício Correa Anselmo, 24 anos, e Adiel Henrique Miguel, 20 anos, foram abordados pelos policiais londrinos no último dia 18. Eles voltavam de uma apresentação em um culto evangélico, com Thia­­go Antonio Murador, 26 anos, do município de Carlópolis, e Luiz André Oliveira Rosa, 23 anos, de Mariluz, quando foram abordados por uma BMW com agentes da MPS (Polícia Metropolitana).

"Eram duas da manhã quando uma viatura com giroflex ligado entrou na nossa frente. Meu colega que estava dirigindo quase bateu. Os policiais já desceram com armas apontadas, com uma violência ao extremo", relata Herigo, em entrevista à Tribuna do Norte, por telefone.

Segundo o jovem, ele e os amigos, que estão todos em situação legal no país, foram arrastados pelos policiais do carro que ocupavam, um VW Golf preto. Os agentes os chutaram e chegaram a aplicar choque elétrico em Thiago, que, mesmo imobilizado, teve pelo menos duas costelas fraturadas. Ele afirma ainda, que os agentes pisaram e estapearam a cabeça dos quatro.

"Havia policiais de seis viaturas. Eles batiam e perguntavam onde estavam as armas e as drogas. Queriam que confessássemos algo que não fizemos. Só depois de nos algemarem, checaram quem éramos e descobriram que abordaram o carro errado", detalha Herigo. Conforme ele, os agentes procuravam traficantes que estariam em um VW Polo preto. A própria polícia chamou uma ambulância para atender os paranaenses.

A agressão protagonizada pela Scotland Yard só ganhou repercussão ontem, em função da queixa-crime registrada pelos paranaenses no IPCC, organismo que investiga casos de abusos cometidos por forças policiais da Ingla­­terra. A sede da organização não governamental (ONG) Casa do Bra­­sil, em Londres, está acompanhado o caso e chegou a ceder o espaço para que o grupo concedesse uma entrevista coletiva à imprensa londrina na tarde de ontem.

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"Os jovens não chegaram a ser presos, mas sofreram uma abordagem muito violenta. Alguns só contaram aos familiares o que aconteceu nessa semana, preocupados sobre como seria a reação no Brasil", afirma à Tribuna o presidente da ONG de assistência a imigrantes, Carlos Mellinger.