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Regime chavista

Parceria com grupos criminosos ajuda Maduro a perseguir e capturar opositores em outros países

O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro (Foto: EFE/ Bienvenido Velasco)

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A caçada implacável do ditador Nicolás Maduro contra seus opositores pode estar ultrapassando as fronteiras da Venezuela e se estendendo por países vizinhos da América do Sul como Colômbia e Chile, revelou uma reportagem da emissora colombiana Notícias Caracol.

Divulgada no final de março, a reportagem mostra que a inteligência militar da ditadura venezuelana estaria em conluio com organizações clandestinas notórias como a guerrilha do Exército de Libertação Nacional (ELN) e a facção criminosa Trem de Aragua para executar operações transnacionais de captura e uma perseguição violenta contra opositores que foram taxados como “conspiradores” e que estão asilados nestes dois países.

Segundo a Notícias Caracol, três opositores do regime chavista, asilados tanto na Colômbia quanto no Chile, foram os mais recentes alvos diretos deste tipo de operação. A reportagem cita que Maduro decidiu “caçar” esses opositores após acusá-los de estarem envolvidos em uma “conspiração” que teria sido planejada a partir da Colômbia para derrubar seu regime na Venezuela.

Ouvindo fontes próximas da operação e das vítimas, a emissora colombiana diz que essa “conspiração”, ao que tudo indica, pode ser apenas mais uma invenção do chavismo para perseguir dissidentes do que um plano concreto. Os três indivíduos alvos de Maduro, segundo a reportagem, seriam Anyelo Heredia e Ronald Ojeda Moreno – ambos ex-militares -, e o ativista estudantil Pablo Parada.

Conforme relatado na reportagem, o ativista Pablo Parada conseguiu escapar de uma tentativa de sequestro que teria sido orquestrada por agentes venezuelanos dentro do território colombiano, onde ele ainda está atualmente asilado. Em entrevista à Notícias Caracol, Parada afirmou ter sido recentemente perseguido em Bogotá por membros da organização criminosa Trem de Aragua, a qual ele alega estar ligada ao regime de Maduro.

Por sua vez, o ex-militar Anyelo Heredia não teve a mesma sorte que Parada e foi capturado por membros do ELN nas proximidades da cidade de Cúcuta, na Colômbia. Segundo a notícia, os guerrilheiros entregaram o opositor para a inteligência venezuelana, que o levou e o prendeu em uma prisão na Venezuela, onde está incomunicável atualmente.

O ex-militar Ronald Ojeda foi o que teve o destino mais trágico nesta história, uma vez que foi sequestrado e assassinado em Santiago, capital do Chile, por indivíduos que, segundo investigações chilenas, estariam vinculados à facção Trem de Aragua, que Parada afirma ter parceria com o chavismo.

Segundo as revelações da emissora colombiana, as recente ações clandestinas transnacionais de Maduro não são casos isolados. A Notícias Caracol afirma ter em sua posse documentos secretos que provam que a contrainteligência militar venezuelana tem atuado na Colômbia em aliança com o ELN e grupos criminosos venezuelanos há anos com o claro objetivo de caçar críticos e opositores, bem como de espionar ações e tentar acessar segredos de segurança nacional.

O cérebro por trás dessas operações clandestinas de inteligência do regime de Caracas seria o coronel Alexander Granko, apelidado de “Mão Negra”. Governos europeus e organizações de direitos humanos o identificam como um dos maiores torturadores e violadores dos direitos humanos da ditadura de Maduro. Granko está na lista de indivíduos sancionados pelas autoridades americanas.

Ricardo Calderón, membro da equipe de jornalismo investigativo da Notícias Caracol, disse em entrevista à uma rádio local que as autoridades colombianas já tinham conhecimento da presença de membros da inteligência militar venezuelana dentro país, mas que a vigilância sobre esses espiões diminuiu com o passar do tempo.

Segundo informações do site argentino Infobae, a inteligência militar venezuelana tem conhecimento em realizar este tipo de operação, de "caçada internacional", porque recebeu treinamento de russos, chineses e cubanos.

O caso de Ojeda no Chile chamou a atenção do presidente Gabriel Boric, que, apesar de ser de esquerda, é um crítico de Maduro. O chileno já se comprometeu em perseguir e desarticular as facções criminosas que podem estar atuando dentro do país.

A investigação sobre a morte de Ojeda ainda está em curso e as autoridades chilenas não descartaram abertamente o envolvimento do regime de Maduro no crime.

A prisão de Heredia, a perseguição contra Parada e o assassinato de Ojeda em Santiago podem ser apenas a ponta do iceberg de uma série de operações ilegais que devem estar em curso como objetivo silenciar qualquer forma de oposição ao regime de Maduro que vive no exterior.

Lidio García, presidente da Comissão Segunda do Senado colombiano, que trata sobre assuntos de defesa nacional, expressou sua preocupação com a revelação de que a inteligência do regime chavista estaria atuando dentro do território colombiano com a ajuda de grupos criminosos.

García exigiu que o governo de Gustavo Petro forneça esclarecimentos sobre as alegadas operações ilícitas que podem ter sido conduzidas pelo regime venezuelano em solo colombiano. Ele também propôs convocar a Comissão Segunda para tratar da questão e sugeriu a suspensão iminente das negociações de paz entre o governo colombiano e o ELN, que estão em curso neste momento.

"Isso é uma situação para ser revisada não apenas com as forças públicas, mas o Governo Nacional deve ver isso com os negociadores deste acordo de paz com o ELN", afirmou García em uma entrevista à Noticias Caracol, reforçando a necessidade de um diálogo mais profundo sobre o assunto.

Por sua vez, em uma coletiva de imprensa realizada no começo da semana, o procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, que é um aliado de Maduro, acusou a emissora Noticias Caracol de tentar “desacreditar o trabalho realizado pelo Ministério Público venezuelano na busca por justiça”, que, segundo ele, visa “manter a estabilidade e a paz no país”.

Saab disse que a reportagem quer “aliviar” a imagem dos “conspiradores” e que o canal colombiano estaria usando tais informações para promover apologia ao “crime, à criminalidade e ao terrorismo”.

"É vergonhoso ver como um veículo de comunicação pode se rebaixar a tal nível", disse Saab, ressaltando que a "reportagem falsa" não cita fontes colombianas, mas é baseado em "depoimentos de indivíduos detidos" e que “confessaram” seus crimes na Venezuela.

O procurador chavista também disse que Bogotá abriga a “sede da Agência Central de Inteligência dos EUA”, a CIA, que é “contra a República Bolivariana’, e afirmou que a “Colômbia e os Estados Unidos continuam sendo as principais bases para a preparação de alegados planos criminosos contra Caracas”.

Saab é o responsável pelas acusações e investigações contra opositores dentro do território venezuelano. Sem apresentar provas concretas do tal crime de “conspiração”, o chavista já emitiu mandados e prendeu cerca de 12 integrantes do Vamos Venezuela, o partido opositor liderado por María Corina Machado. A medida fez com que diversos outros opositores pedissem asilo à embaixada argentina em Caracas na última semana.

Além de membros do partido de Machado, o chavismo também prendeu a ativista Rocío San Miguel, que está sob custódia desde fevereiro. Sua equipe de defesa particular já denunciou por diversas vezes que ela não teve nem ao menos o direito de escolher seus advogados e que o regime designou um defensor público com quem ela nunca teve contato até o momento.

A repressão de Maduro contra opositores se intensificou justamente no ano em que deverá ocorrer a eleição presidencial na Venezuela, marcada para o dia 28 de julho. Esta eleição provavelmente não contará com uma oposição forte, uma vez que Corina Machado, o rosto opositor mais conhecido, foi inabilitada de concorrer e a candidata escolhida como sua substituta, a filósofa Corina Yoris, enfrenta dificuldades para se inscrever na plataforma do órgão eleitoral.

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