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Ditaduras amigas

Parceria Rússia-Nicarágua em formação policial é fachada para espionagem, alertam especialistas

O ditador Vladimir Putin e o secretário do Conselho de Segurança russo, general Nikolai Patrushev, que esteve na Nicarágua em fevereiro (Foto: EFE/EPA/ALEXEI DANICHEV/SPUTNIK/KREMLIN)

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A construção de um centro de formação policial na Nicarágua, numa parceria com o governo da Rússia, está fazendo especialistas do país centro-americano especular que a estrutura na verdade será um órgão de espionagem do regime de Vladimir Putin, a serviço dos interesses da ditadura de Daniel Ortega.

A construção do centro faz parte de um acordo de segurança entre Manágua e Moscou que foi assinado durante uma visita recente à Nicarágua do secretário do Conselho de Segurança russo, general Nikolai Patrushev, e que foi aprovado pela Assembleia Nacional, subserviente a Ortega, na última quinta-feira (21).

Segundo especialistas ouvidos pelo jornal Confidencial, a suspeita de que o local será uma unidade de espionagem é reforçada pelos amplos privilégios e autonomia que Moscou terá no centro de formação, além do fato de que já há em Manágua desde 2017 uma estrutura em parceria com os russos de capacitação para o combate ao narcotráfico.

O texto do recente acordo prevê que os funcionários russos do centro de formação policial terão imunidade “​​criminal, civil ou administrativamente” perante as leis da Nicarágua “no desempenho das suas funções” – os únicos casos em que poderão ser processados serão em situações de acidentes de trânsito ou de danos à “saúde e vida de pessoas físicas”.

Ainda segundo o documento, a equipe russa não precisará “dar testemunho às autoridades da República da Nicarágua sobre questões relacionadas ao desempenho das suas funções” e ficará isenta do pagamento por “serviços públicos” e de “impostos sobre salários e outras remunerações pagas pelo centro educativo”.

Quanto à obra em si, “será realizada pela Parte Russa de forma independente e às suas próprias custas” e quaisquer imóveis do projeto “serão propriedade da Federação Russa”, que terá “o direito de usar os objetos imobiliários e o centro de formação para fins não relacionados com a execução” do acordo caso haja rescisão.

Por outro lado, a Polícia Nacional da Nicarágua terá papéis apenas coadjuvantes no centro de formação, como fornecer “serviços de segurança gratuitos, serviços básicos e serviços de tradução” e “assistência” aos russos no registro de propriedades e na “obtenção de licenças e aprovações relevantes” para a obra.

Além disso, poderá “colaborar” na seleção de candidatos das polícias de outros países, função que será centralizada pelo pessoal da Rússia.

Em entrevista ao Confidencial, Javier Meléndez, diretor do centro de pesquisa Expediente Abierto, lembrou que no passado a formação ministrada por agentes russos “exacerbou conflitos internos em países que já enfrentavam tensões étnicas, políticas ou sociais”.

“Isto é sem dúvida grave para os nicaraguenses, porque, somado ao ambiente de espionagem com apoio cubano, haverá uma maior militarização das forças policiais e continuará a dinâmica de continuar a reprimir o povo em vez de combater o crime”, disse Meléndez.

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