Com a queda do Muro de Berlim em 1989 e o colapso da União Soviética em 1991 marcos do fim da Guerra Fria , os Estados Unidos se consolidaram como potência hegemônica. Uma posição conquistada logo após a Segunda Guerra Mundial e poucas vezes ameaçada pela opositora comunista durante as quase cinco décadas de disputa bipolar. Mas nos últimos anos outra bandeira vermelha desponta altiva no horizonte asiático: a chinesa. Uma nação com 1,3 bilhão de habitantes entre os quais estão os estudantes mais bem classificados do planeta , que apresenta consecutivas taxas de crescimento econômico da ordem de 10%, e na qual a língua inglesa é falada diariamente por mais pessoas que em países como Reino Unido ou Estados Unidos.
O que os especialistas se perguntam agora é se a China terá condições de manter esse nível de crescimento a ponto de, um dia, suplantar os EUA como a maior potência econômica do mundo. "Em uma perspectiva de longo prazo é difícil dizer se a China se manterá nesse ritmo, mas logicamente não se vê no cenário, pelo menos a curto ou médio prazo, uma mudança nesse padrão de crescimento", analisa Julio Suzuki, diretor de pesquisa do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social. "Logo, é provável que a economia chinesa mantenha, ainda por um bom tempo, esse padrão de crescimento de 9% a 10% ao ano", completa o diretor de pesquisa do Ipardes.
Apesar de reconhecer a importância econômica e política do país no atual cenário global, Wellington Pereira, professor de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), não acredita que o mundo esteja caminhando para uma bipolarização econômica entre EUA e China ou mesmo para uma supremacia chinesa. "Vejo que, muito pelo contrário, ainda prevalece e tende a permanecer por algum tempo a relação de sinergia econômica entre os dois países", pondera. Segundo o professor da UFPR, essa sinergia pode até não ser benéfica para ambos os lados, mas trata-se de uma relação construída durante anos e que não pode ser desfeita completamente do dia para a noite.
Parceria
"Com um certo espanto, os EUA viram o avanço chinês de longe, e, em certa medida, contribuíram para isso", avalia Pereira. O professor se refere a decisões como o deslocamento de plantas industriais de grandes empresas norte-americanas para a China nas últimas décadas.
Algo que ajudou a tornar os Estados Unidos o principal cliente comercial do país asiático e, ao mesmo tempo, fez com que os americanos passassem a depender, cada vez mais, dos abundantes aportes de recursos chineses. "Trata-se de uma relação muito mais complexa, obviamente, e isso tem reflexo direto sobre as relações políticas", afirma Pereira.
No caso das relações comerciais com o Brasil, a lógica é similar, mas com algumas particularidades. A China é uma grande importadora de produtos básicos brasileiros, principalmente de commodities, e se tornou, ao mesmo tempo, uma grande fornecedora dos artigos industrializados que utilizamos.
"Logicamente existe aí um processo de troca um tanto quanto desfavorável para o Brasil. É complicado você, por exemplo, exportar soja em grão e importar produtos eletrônicos, de alto valor agregado", explica Suzuki. Quando o assunto é o Paraná, basta dizer que a China é hoje a maior importadora de produtos oriundos do estado.
Mentes que brilham
Se a China não chega a ameaçar pelo menos por enquanto a hegemonia econômica e política dos EUA, na educação os chineses já são imbatíveis.
No último teste realizado pelo Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), os adolescentes de Xangai a maior cidade chinesa ultrapassaram a Finlândia e ficaram em primeiro lugar. Os resultados da pesquisa foram divulgados em dezembro do ano passado e levaram as autoridades de vários países, como Grã-Bretanha, França e Estados Unidos, a prometer uma revisão no método adotado em suas escolas.
O Pisa avalia a compreensão de leitura, matemática e ciências por jovens de 15 anos em 65 países, por meio de testes padronizados. "O sucesso impressionante de Xangai, que encabeça todas as tabelas dessa avaliação com uma margem clara, mostra o que pode ser feito com recursos econômicos moderados em um contexto social diverso", afirmou o relatório emitido pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, que aplica o Pisa.