LONDRES — A família de Jean Charles de Menezes relembra nesta quarta-feira os dez anos da morte do brasileiro em Londres, com homenagens no local onde ele foi morto por um policial depois de ser confundido com um terrorista. Cartazes e flores foram depositados na estação de metrô Stockwell por parentes e amigos do eletricista, que ainda lutam para que os responsáveis pelo incidente sejam punidos. Mas enquanto o caso ainda parece longe de um desfecho, as lembranças do jovem que morreu aos 27 anos ainda estão muitos vivas.
— Eu nunca pensei que me veria enterrando meu filho porque isso vai contra a ordem natural da vida. Isso ainda me causa muita dor — disse a mãe de Jean Charles, Maria de Menezes à BBC. — Me senti arrasada. Queria me destruir. Perdi minha alegria de viver.
Nos últimos dez anos, a família do brasileiro fez uma intensa campanha para levar à Justiça os autores da tragédia, mas sem sucesso. A família do brasileiro questiona o fato de as autoridades jamais terem levado os responsáveis pelo incidente à Justiça criminal do país. E acusa o Reino Unido de desrespeitar o Artigo 2º da Convenção Europeia dos Direitos Humanos, que determina investigações apropriadas de mortes ocorridas nos 28 países que compõem a União Europeia.
Em 22 de julho de 2005, um policial matou o eletricista de 27 anos com sete tiros na cabeça depois de uma das cenas de perseguição mais desastrosas da Scotland Yard dos últimos tempos. Sob a pressão dos atentados terroristas que mataram 56 pessoas em julho de 2005, os policiais atiraram e mataram, por engano, o brasileiro, que confundiram com um dos suspeitos que vinham monitorando.
O caso, que causou grande comoção e colocou em cheque o profissionalismo da polícia metropolitana, havia sido considerado encerrado pelo governo britânico, mas no mês passado foi apresentado à Câmara Alta da Corte Europeia de Direitos Humanos. À época, os britânicos reconheceram o erro da operação, abriram investigações internas e independentes e indenizaram a família de Jean Charles em 175 mil libras (R$ 865 mil, no câmbio atual).
Mas o Ministério Público optou por não levar o caso à Justiça criminal por considerar que “não havia provas irrefutáveis” da culpa dos agentes. A justificativa provocou revolta na família de Jean Charles, que não desistiu do processo.
A polícia sempre sustentou que estava sob pressão e alerta máximo na época devido aos ataques de 7 de julho, e que os agentes que atiraram em Jean Charles temiam pela própria vida e pela dos passageiros do metrô. O inquérito público que investigou as circunstâncias concluiu que a Scotland Yard não poderia ser responsabilizada criminalmente pelo incidente.