Rua vazia numa das áreas de circulação restrita em Paris devido aos Jogos Olímpicos| Foto: EFE/EPA/ANDRE PAIN
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Nesta sexta-feira (26), será realizada a cerimônia de abertura da Olimpíada de Paris, em meio a críticas da população francesa e dúvidas sobre se receber o maior evento esportivo do mundo é realmente uma boa ideia.

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Um relatório recém-publicado pelo think tank americano Conselho sobre Relações Exteriores (CFR, na sigla em inglês) mostrou que essa relação custo-benefício se mostra cada vez mais complicada.

Após algumas experiências olímpicas fracassadas do ponto de vista financeiro, em especial os Jogos de Montreal em 1976 (cujas dívidas levaram quase 30 anos para serem pagas), Los Angeles realizou em 1984 uma Olimpíada extremamente bem sucedida e fez o número de cidades candidatas a sediar o evento crescer de apenas duas para as disputas de 1988 (Seul foi a escolhida) para 12 querendo recebê-las em 2004 (Atenas foi a vencedora).

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O CFR destacou, porém, que justamente Los Angeles-1984 foi a única Olimpíada desde então a ter um resultado financeiro positivo – isto porque a cidade americana foi beneficiada por já ter arenas esportivas e infraestrutura em grande parte prontas e por um salto nos valores dos direitos de transmissão. As Olimpíadas seguintes, em que grande parte da estrutura teve que ser feita do zero, não tiveram os mesmos resultados.

Segundo o estudo, a Olimpíada de 2008 em Pequim conseguiu US$ 3,6 bilhões em receitas, mas seus custos superaram os US$ 40 bilhões. Os Jogos de Tóquio de 2021, que não tiveram público devido à pandemia de Covid-19, arrecadaram US$ 5,8 bilhões, mas custaram US$ 13 bilhões.

A Olimpíada do Rio de Janeiro, realizada em 2016 e cujos custos ultrapassaram US$ 20 bilhões, é citada no relatório como outro exemplo negativo, com suas arenas esportivas na sua maioria “abandonadas ou pouco utilizadas” depois do evento.

Essas dificuldades fizeram o Comitê Olímpico Internacional (COI) simplificar e flexibilizar o processo de escolha das sedes dos Jogos, abrindo a possibilidade de que mais de uma cidade receba o evento para reduzir custos, mas por enquanto não tem havido muito interesse.

Em 2021, Brisbane, na Austrália, não teve concorrentes e recebeu o direito de receber a Olimpíada de 2032, na primeira seleção de uma cidade olímpica com apenas uma postulante desde Los Angeles-1984.

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Paris aposta no trunfo de realizar as competições em arenas esportivas que já estavam na sua maioria prontas, e os custos da Olimpíada foram estimados em cerca de US$ 12 bilhões, bem abaixo dos eventos olímpicos anteriores.

Ainda assim, a população da capital francesa está bem longe de estar satisfeita por receber o evento. Uma pesquisa realizada no final de 2023 mostrou que 44% dos parisienses consideravam que os Jogos Olímpicos seriam “ruins” para a cidade e 52% responderam que cogitavam sair de Paris durante as competições.

Uma reportagem recente da CBS mostrou que essa resistência permanece, devido às dificuldades de locomoção que a Olimpíada vem proporcionando (geradas por obras e restrições de circulação) e a aumentos de preços puxados pelo evento.

Profissionais do mercado imobiliário e de turismo disseram à emissora americana que a chegada de visitantes está até aquém de outros verões em Paris, um dos principais destinos turísticos do mundo.

“As pessoas que estavam pensando em vir a Paris nas férias, a maioria decidiu não vir porque, primeiro, a cidade está muito congestionada, segundo, os preços estão muito altos”, disse Gail Boisclair, diretora da imobiliária Perfectly Paris.

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Alguns gestores defendem que, apesar do resultado financeiro negativo, receber os Jogos Olímpicos ainda é positivo, pelo soft power proporcionado pelo evento e por atrair interesse para investimentos estrangeiros futuros.

Entretanto, para derrubar o primeiro argumento, basta lembrar que os Jogos de Inverno de Pequim de 2022 não só não conseguiram vender uma imagem mais simpática da China ao mundo, como ainda fizeram as violações de direitos humanos praticadas pela ditadura chinesa serem examinadas mais atentamente. O mesmo aconteceu com o Catar ao sediar a Copa do Mundo daquele ano.

Quanto ao segundo argumento, um estudo sobre as cidades-sedes das Olimpíadas realizadas entre 1950 e 2005, produzido em 2010 pelos economistas Stephen B. Billings, hoje atuando na Universidade do Colorado, e James Scott Holladay, da Universidade do Tennessee, apontou que receber os Jogos não traz vantagens econômicas duradouras.

Segundo a pesquisa, os resultados pós-evento nessas cidades não demonstraram “impactos de longo prazo da organização de uma Olimpíada em duas métricas, PIB real per capita e abertura comercial”, na comparação com cidades que foram finalistas para receber os Jogos Olímpicos, mas não foram selecionadas pelo COI.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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