Boa parte dos partidários do terceiro mandato usam como argumento a longevidade de governos como o de Helmut Kohl, que governou a Alemanha por 16 anos (1982- 1998), e o de Margareth Thatcher, que por 11 anos foi a dama-de-ferro da Grã-Bretanha (1979- 1990). A comparação, no entanto, coloca no mesmo saco sistemas de governo diferentes. Ao contrário do presidencialismo, o parlamentarismo sistema de governo vigente na maioria dos países europeus não separa de maneira rígida os poderes Legislativo e Executivo, que no caso do sistema parlamentar depende sempre do apoio direto do Parlamento para governar.
"O parlamentarismo pode até ser considerado mais democrático que o presidencialismo porque é um sistema que depende de uma coalizão governista e que só permanece enquanto há consenso", afirmou o cientista político Christian Lohbauer, do Grupo de Análise da Conjuntura Internacional da Universidade de São Paulo.
Assim, no parlamentarismo, um primeiro-ministro pode ser derrubado a qualquer momento, caso ele perca o apoio da população ou dentro do próprio Parlamento. Essa característica torna irrelevante a discussão sobre a necessidade de uma alternância de poder no sistema parlamentar. Por isso, Helmut Kohl e Margareth Thatcher foram absolvidos pela história.
Caso francês
Desgastado pela rejeição dos franceses à Constituição européia, em 2005, o então presidente da França, Jacques Chirac, veio a público em março para dizer que não se candidataria a um terceiro mandato. O sistema francês, que tomou elementos do parlamentarismo e do presidencialismo, é uma exceção entre as maiores democracias do mundo. Em tese, o presidente, responsável pela defesa e pela política externa, deveria coexistir com a figura do primeiro-ministro, que responde pelos assuntos internos.
Essa coabitação daria a chancela de democráticos os 12 anos de governo de Chirac e os 14 anos de François Mitterrand. No entanto, vários constitucionalistas apontam para uma "presidencialização" do regime, principalmente em razão da forte tradição gaullista e da eleição do "superpresidente" Nicolas Sarkozy, empossado no último mês de maio.