Investigação
Amanhã, inspetores deixam território sírio e apresentam dados
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, informou ontem que a equipe que investiga o uso de armas químicas na Síria deverá voltar de Damasco amanhã. No mesmo dia, deverão apresentar dados preliminares sobre as pesquisas na área de um suposto ataque na periferia da capital síria.
Os inspetores entraram no terceiro dia de visitas à região de Ghouta, onde os rebeldes afirmam que houve um bombardeio com gás venenoso no dia 21. Ontem, o grupo recolheu amostras de sangue e terra, além de visitar um hospital de campanha e conversar com médicos e supostas vítimas do ataque químico.
Moscou pediu que os observadores da ONU visitem também outros três lugares onde também há acusações de armas químicas. O porta-voz da Chancelaria russa, Alexander Lukashevich, disse que a equipe também deve inspecionar em Khan al Assal, na Província de Aleppo, no norte do país.
Ele afirmou que as autoridades sírias e a organização concordaram em aumentar a missão para que haja as inspeções nas áreas estabelecidas no acordo com o regime sírio que permitiu a visitação da Síria, há duas semanas.
O Parlamento britânico rejeitou ontem a moção do governo David Cameron que abriria caminho para a participação do país em uma ação militar na Síria.
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O texto foi derrotado por 285 votos a 272. O resultado é uma grave derrota política para o primeiro-ministro, do Partido Conservador.
Após a divulgação do placar, Cameron disse entender que a população britânica não deseja uma intervenção militar com a participação do Reino Unido. Ele prometeu não agir sem aval do Parlamento.
"Ficou claro para mim que o Parlamento britânico, refletindo as visões da população britânica, não quer ver uma ação militar britânica. Entendo isso e o governo vai agir de acordo com isso", afirmou.
O placar sugere que, além da oposição trabalhista, parte da bancada dos partidos Conservador e do Liberal-Democrata, que integra a coalizão de Cameron, votaram contra ele.
Assim que o resultado foi proclamado, um dos deputados gritou para o primeiro-ministro: "Renuncie!". O líder da oposição, Ed Miliband, foi aplaudido por correligionários.
Em tese, Cameron ainda pode propor uma nova votação do tema na próxima semana. No entanto, ele dependerá de um fato político novo para retomar o assunto.
De acordo com a rede BBC, é a primeira vez em 50 anos que a oposição derrota o governo numa votação sobre o envio de tropas britânicas ao exterior.
ONU
Um novo encontro entre os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas, em Nova York, a respeito de uma resolução contra a Síria terminou ontem sem consenso aparente.
Segundo diplomatas envolvidos, quem convocou a reunião de ontem foi a Rússia, aliada do ditador sírio Bashar Assad. A conversa aconteceu novamente a portas fechadas. Ao final da reunião, os participantes deixaram a sala sem comentar.
Estados Unidos, França e Reino Unido são favoráveis à intervenção. China e Rússia, que já vetaram resoluções anteriores, se opõem, dizendo que não há provas de que o ataque foi cometido pelo regime sírio.
EUA
O jornal The New York Times, citando fontes próximas ao governo dos EUA, diz que o presidente Barack Obama vai levar adiante a ideia de uma ofensiva "limitada" contra a Síria, mesmo sem aval da ONU e sem o apoio de aliados. Ele só está esperando os inspetores das Nações Unidas deixarem o país, o que ocorrerá amanhã.
Nas ruas de Damasco, o clima é de depressão, medo e revolta
Agência O Globo
O assunto é o mesmo em todas as ruas de Damasco. Por onde se passa, a palavra "guerra" é ouvida de diferentes vozes, relata a síria Aline Homsy para a reportagem. Temendo um ataque militar das potências ocidentais, o que agravaria ainda mais uma guerra civil que já entrou em seu terceiro ano, parte da população começa a estocar suprimentos. O clima de depressão e medo se mistura com a revolta pela possibilidade de intervenção estrangeira.
"Só se fala em guerra. As pessoas estão com medo, ficam o dia todo assistindo e ouvindo o noticiário. Muitas estão estocando pão e comida. É deprimente. Não sabemos o que vai acontecer", contou Aline. Ela diz temer que a guerra se espalhe.
Analistas internacionais avaliam que um ataque à Síria poderia afetar toda a região, enfurecendo os aliados do presidente Bashar Assad e alarmando os países vizinhos contra uma possível retaliação do regime sírio. Em tom de ameaça, Assad havia dito que o mundo se surpreenderia com a sua capacidade militar.
Segundo Aline, apesar de a oposição síria ter feito reiterados apelos por uma intervenção do Ocidente, até mesmo civis que se opõem ao regime são contra um ataque das forças internacionais.
"Os países não têm o direito de fazer isso. Qualquer ataque poderia ajudar terroristas, e não o povo sírio. Desestabilizaria o Oriente Médio e não levaria ao fim da guerra civil. Seria pior", disse.
A jovem de 25 anos vive na capital síria em um bairro cristão comunidade que frequentemente teme ficar desprotegida diante da maioria muçulmana sunita com uma queda do regime. Formada em arquitetura, está há seis meses desempregada após o fechamento da empresa em que trabalhava em decorrência da guerra civil. Mesmo com o êxodo crescente no país hoje são 1,9 milhão de refugiados sírios, sendo um milhão de crianças, segundo as Nações Unidas , sua família não pretende sair de Damasco.