O Parlamento da Ucrânia começou a discutir nesta quarta-feira (29) um projeto de lei para anistiar manifestantes presos durante os protestos contra o governo em Kiev e em outras cidades do país nas últimas semanas. A medida é uma das exigências dos opositores, que conseguiram outras vitórias na terça-feira (28).
Na terça, o primeiro-ministro Mykola Azarov anunciou sua renúncia, dissolvendo todo o governo. Em seguida, o Legislativo derrubou nove dos 12 artigos da lei contra os protestos que irritou os manifestantes e provocou a radicalização do movimento contra o presidente Viktor Yanukovich na semana passada.
Apesar do progresso nas negociações, os opositores mantêm as barricadas no centro de Kiev, montadas para se protegerem da repressão das forças de segurança. Os manifestantes ocupam há dois meses a região, após Yanukovich rejeitar em novembro o acordo de adesão da Ucrânia à União Europeia (UE).
Das duas propostas colocadas para escrutínio dos deputados, uma delas condiciona a libertação dos presos à desocupação dos prédios do governo e da praça da Independência, centro dos protestos na capital ucraniana.
Isso pode complicar a tramitação, já que manifestantes radicais deram sinais de que não pretendem sair do local até que o presidente renuncie. Um dos líderes da oposição, Arseniy Yatseniuk, mostrou preocupação com a possível decretação do estado de exceção para desalojar os manifestantes.
Para ele, a medida significaria a destruição da Ucrânia por um conflito que poderia deixar centenas de mortos. O opositor afirmou que seus aliados continuarão a incentivar uma solução pacífica para a crise. O apoio a um acordo também foi defendido pelo ex-presidente Leonid Kravchuk, que governou o país entre 1991 e 1994.
"Todo o mundo reconhece e a Ucrânia reconhece que este Estado está à beira de uma guerra civil. É uma revolução. É uma situação dramática em que precisamos atuar com o máximo de responsabilidade".
Resgate
Mais cedo, o primeiro-ministro interino Serhiy Arbuzov disse que a Ucrânia receberá "muito em breve" uma parcela de US$ 2 bilhões (R$ 4,7 bilhões) dos US$ 15 bilhões (R$ 35 bilhões) do resgate oferecido pela Rússia em dezembro. Pouco após a assinatura do acordo, Kiev recebeu US$ 3 bilhões (R$ 7,1 bilhões) de Moscou.
O acordo ainda permitiu a redução do preço do gás, um dos motivos da dívida ucraniana com os russos. O débito com Moscou foi apontado como um dos motivos para a pressão para que Kiev não tramitasse a adesão à União Europeia.
Ontem, o presidente Vladimir Putin afirmou que a Ucrânia será capaz de resolver sozinha a crise política e criticou os países europeus, que condenaram a repressão aos protestos e ameaçaram o governo local com sanções.
"Eu só posso imaginar como nossos parceiros europeus responderiam se no ápice das crises em países como Grécia ou Chipre nosso primeiro ministro aparecesse em um desses protestos contra a União Europeia e começasse a apoiá-los".