As eleições presidenciais da Bolívia devem ocorrer em outubro, mas neste domingo (27), pela primeira vez na história do país, foram realizadas eleições primárias como parte do processo eleitoral, dando a nove candidatos a luz verde para seguir na corrida presidencial. Isso inclui o presidente Evo Morales, que concorreu como único candidato do partido Movimento ao Socialismo (MAS), reforçando o caráter partidário do pleito em validar a campanha presidencial de Morales para um possível quarto mandato – algo que os bolivianos rejeitaram em um referendo organizado pelo governo em fevereiro de 2016.
O evento, entretanto, foi pior do que o esperado para o partido de Morales. Com um custo total de US$ 3,9 milhões segundo o Tribunal Eleitoral da Bolívia, as primárias registraram a participação de apenas 23,5% dos votantes inscritos para eleger seus candidatos à disputa presidencial de outubro – cerca de 400 mil entre os 1,7 milhões habilitados. Ainda pior para Morales foi a abstenção dos militantes de seu partido. O MAS esperava pelo menos 50% de participação dos filiados, porém apenas 36,5% foram às urnas.
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Já os opositores comemoraram os 5% de participação de seus filiados. Alguns dias antes das primárias, Carlos Mesa, candidato à presidência que lidera as pesquisas de intenção de voto, havia pedido que as pessoas não fossem votar.
A Constituição da Bolívia permite apenas uma reeleição para o mandato presidencial de cinco anos. Morales quis mudar esta condição e realizou um plebiscito em 21 de Fevereiro de 2016, no qual perguntou à população se estava de acordo em retirar o limite para a reeleição. A jogada acabou não dando certo, já que o “não” ganhou com mais de 51% dos votos.
Morales, entretanto, não desistiu de tentar o quarto mandato. Ele recorreu à Suprema Corte do país, composta majoritariamente por ministros alinhados ao seu governo, e, em 2017, conseguiu autorização para concorrer mais uma vez. Na época, a oposição havia classificado a decisão do tribunal como uma prova de que a justiça da Bolívia havia se tornado “um instrumento do MAS para deixar impune a corrupção, violar os direitos humanos e vulnerar a Constituição”, segundo afirmou o então vice-presidente do Democratas, Vladimir Peña. Em 5 de dezembro, a candidatura de Morales foi aprovada também pela justiça eleitoral da Bolívia.