Montados em cavalos e camelos, partidários do presidente Hosni Mubarak usaram na quarta-feira paus e bombas incendiárias para agredirmanifestantes contrários ao governo, enquanto o Exército pediu que os protestos sejam encerrados.
Os manifestantes de oposição atiraram pedras nos agressores, apontando-os como policiais à paisana. O Ministério do Interior negou isso, e o governo egípcio rejeitou a pressão para que Mubarak renuncie imediatamente, após 30 anos no poder.
A intransigência de Mubarak e a aparição de simpatizantes do presidente nas ruas do Cairo, envolvendo-se em confrontos após uma semana de manifestações relativamente pacíficas da oposição, complicam a estratégia dos EUA para estimular uma transição ordeira no Egito.
"Se qualquer violência for instigada pelo governo, ela deve parar imediatamente", disse o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs. O governo dos EUA, que tem em Mubarak um tradicional aliado contra a expansão de militantes islâmicos no Oriente Médio, parece cada vez mais se distanciar dele.
Na terça-feira, após uma semana de protestos inspirados na recente rebelião tunisiana, Mubarak anunciou que não irá se candidatar a um novo mandato em setembro. Mas a concessão aparentemente não contentou os manifestantes, que continuam mobilizados no Cairo e em várias outras cidades.
O confronto entre seguidores e opositores do governo na praça Tahrir (Libertação) fez com que a quarta-feira fosse o mais violento dos nove dias de manifestações no Egito. Os incidentes foram assistidos por impassíveis soldados em veículos blindados. O líder oposicionista Mohamed El Baradei, Prêmio Nobel da Paz, pediu ao Exército que intervenha.
Houve relatos de armas de fogo sendo disparadas na praça, e autoridades disseram que uma pessoa morreu e mais de 600 ficaram feridas nos distúrbios da quarta-feira. Não está claro quem atirou -- o Exército nega que tenham sido seus soldados.
O comando militar do Egito argumentou que os manifestantes deveriam desocupar a praça, pois suas exigências já foram ouvidas. Mas alguns se mostram determinados a permanecer ali até que Mubarak deixe o governo.
Erguendo um pedaço de pau, o sexagenário Khalil culpava seguidores de Mubarak e agentes à paisana pelos confrontos. "Não vamos sair. Todo mundo fica onde está", disse ele à Reuters.
Ao anoitecer da quarta-feira, cerca de 2.000 recalcitrantes permaneciam na praça, gritando: "O povo quer que o presidente caia", e "Fora, fora." A TV estatal transmitiu um apelo pela desocupação do local, alertando para o risco de provocações.
A aparição dos seguidores de Mubarak, sejam cidadãos comuns ou policiais, cria uma nova dinâmica para os significativos fatos dos últimos dias no mais populoso país árabe, com 80 milhões de habitantes.
Pelo menos 140 pessoas já morreram em uma semana de rebelião contra a pobreza, o desemprego, a corrupção e a repressão política.
Efeito dominó
A onda de protestos, inspirada na recente rebelião que derrubou o governo da Tunísia, ameaça se espalhar para outros países árabes.
Na terça-feira, o rei da Jordânia substituiu seu primeiro-ministro, e na quarta-feira o presidente do Iêmen anunciou que não concorrerá a um novo mandato em 2013.
Os EUA e outros governos ocidentais assistem com preocupação os distúrbios no Egito, tradicionalmente visto como um país crucial para a estabilidade do Oriente Médio.
O presidente Barack Obama telefonou na quarta-feira a Mubarak, de 82 anos, para pedir que ele acelere a transição. França, Alemanha e Grã-Bretanha também se manifestaram em termos semelhantes.
Mas, em nota, a chancelaria egípcia disse que não haverá transição imediata, e acusou norte-americanos e europeus de tentarem "incitar a situação interna" do Egito.
"Isso parece ser uma clara rejeição ao governo Obama e aos esforços da comunidade internacional para tentar ajudar a gerir uma transição pacífica de Mubarak para um Egito novo e democrático", disse Robert Danin, da entidade norte-americana Conselho de Relações Exteriores.
Muitos analistas dizem que o futuro de Mubarak está nas mãos do Exército, que recebe 1,3 bilhão de dólares por ano em ajuda norte-americana, e que tentará manter sua influência no futuro cenário político do Egito.
Um dos poucos sinais de apoio ao presidente egípcio partiu da Arábia Saudita, maior exportador mundial de petróleo, visto por analistas como igualmente suscetível a uma rebelião.
Israel, que assinou em 1979 um tratado de paz com o Egito -- o seu primeiro com um país árabe --, também acompanha com nervosismo a situação na sua fronteira oeste, temendo a possibilidade de que grupos islâmicos hostis ao Estado judeu possam chegar ao poder.
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