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Honduras

Partidários de Zelaya abandonam a luta nas ruas

Os simpatizantes do presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, já não marcham todos os dias pelas ruas para exigir o retorno ao poder de seu líder e se dispõem agora a vencer as eleições de 2014, quando pretendem escolher uma Assembleia Constituinte e modificar a lei fundamental do país.

"Encerramos esse capítulo de lutas nas ruas após a decisão do Congresso de não restituir Zelaya, o que foi um golpe no ânimo de nossa gente", disse nesta sexta-feira a Associated Press o líder da Frente Nacional de Resistência contra o Golpe de Estado, Juan Barahona.

O Congresso recusou-se, na quarta-feira, a restituir Zelaya, refugiado na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa desde 21 de setembro após voltar secretamente à capital do país.

A votação dos 128 deputados, de cinco diferentes partidos políticos com diferentes ideologias, chegou a um resultado de 111 votos contra a volta de Zelaya e 14 a favor. Três deputados não participarão da sessão.

Dessa forma, o Congresso cumpriu o quinto ponto do Acordo Tegucigalpa-San José, negociado por Zelaya no dia 30 de outubro com o presidente interino Roberto Micheletti com o aval dos Estados Unidos e da Organização dos Estados Americanos (OEA).

"Já não pedimos o regresso de Zelaya porque no dia 27 de janeiro vence seu mandato de quatro anos e um novo governo de Porfirio Lobo vai assumir, mas nossa luta é pela Constituinte", afirmou Barahona.

Lobo, do opositor Partido Nacional, venceu seu adversário liberal Elvin Santos nas eleições gerais do domingo.

Para Barahona, contudo, "Lobo foi eleito por uma minoria que representa os interesses econômicos dos empresários e oligarcas de Honduras. Seu governo será a continuação do golpe de Estado já que tanto Lobo quando Santos são golpistas por participarem do planejamento e execução dessa monstruosidade".

Ele advertiu que "nos preparamos para participar do próximo processo eleitoral com a unidade e a força da Frente de Resistência para tomar o poder e eleger uma Constituinte".

Embora a consulta popular tenha sido transparente e com grande participação dos eleitores, alguns países resistem a reconhecer o pleito. Honduras foi suspensa da Organização dos Estados Americanos por causa do golpe de Estado.

Dilma Rousseff, ministra-chefe da Casa Civil do governo do presidente brasileiro Luiz Ignácio Lula da Silva, disse nesta sexta-feira que seu país avalia as opções sobre a eleição de Lobo.

Embora Lula tenha anunciado que não reconhecerá Lobo, Dilma disse que o resultado da eleição deve ser avaliado.

"Houve uma eleição. Há uma nova situação. Este processo será levado em consideração. Não podemos ignorar o golpe, mas tampouco podemos ignorar as eleições", disse Dilma a jornalistas na Alemanha. Ela declarou que Lula está "muito preocupado" com a situação hondurenha.

Em sua maioria, os partidários de Zelaya são integrantes do Partido Liberal. Eles permaneceram nas ruas por 159 dias consecutivos desde 28 de junho, quando os militares invadiram a casa de Zelaya e, sob a mira de um revólver, retiraram o presidente de pijamas e o enviaram para a Costa Rica por causa de sua tentativa de modificar a Constituição, que não permite a reeleição presidencial.

Para esse grupo, o país precisa de uma Constituição democrática e popular. A atual carta magna foi escrita em 1982 e é a que está há mais tempo em vigor em Honduras, há 27 anos.

Em alguns momentos, as manifestações de rua foram pequenas, mas em outras foram gigantescas, como a do dia 5 de julho, quando Zelaya, refugiado na Nicarágua, tentou aterrissar com um avião venezuelano onde também estava o presidente da Assembleia Geral da ONU, o nicaraguense Miguel D'Escoto. As autoridades hondurenhas impediram a aterrissagem colocando veículos militares na pista do aeroporto de Tegucigalpa.

Durante a manifestação o camponês Obed Murillo, de 21 anos, foi morto com um tiro na cabeça. Ele se tornou um herói para os partidários de Zelaya. Seu assassinado não foi esclarecido pela polícia.

Os partidários de Zelaya afirmam que cerca de 129 seguidores do presidente foram mortos nas ruas, número negado pelo governo interino.

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