Enquanto a última eleição para o Parlamento Europeu, no início do mês, deixou imigrantes estrangeiros ainda mais receosos quanto ao futuro devido ao fortalecimento da direita, um partido de extrema esquerda criado há quatro meses ergue a bandeira dos "sem-papéis" e promete novidades.
Um dos líderes do Novo Partido Anticapitalista (NPA) francês, François Sabado, conta que a atuação sindical foi responsável, por exemplo, pela obtenção de documentos para funcionários de restaurantes uma demonstração de que existem, sim, europeus na defesa dos clandestinos. Sabado esteve em Curitiba para um debate com militantes de esquerda e falou à Gazeta do Povo.
O que o voto na direita revela em relação à sociedade europeia?
Existe uma ilusão de ótica. O fenômeno maior que houve nas eleições foram os 60% de abstenção, uma cifra recorde. Quem se absteve foram as classes populares e a juventude, que, em geral, votam na esquerda.
Foi um modo de protesto?
Sim, mas a abstenção não é um protesto eficaz.
O NPA ficou satisfeito com o resultado que obteve?
Tivemos um resultado bom em relação aos antigos da Liga Comunista Revolucionária, que lançou o NPA: 5%, ante 2,7%. Mas faltaram 200 votos para fazer um deputado.
Qual a plataforma do NPA para os imigrantes?
Há uma política muito hostil à imigração na Europa. Essa foi uma de nossas campanhas principais: defender os imigrantes, seus direitos, a igualdade em relação à população nativa.
Qual a proposta do partido para resolver o problema da ilegalidade?
Isso é muito claro: dar papéis a todo mundo. Somos a favor da livre circulação e instalação (dos estrangeiros). Com documento, eles não estão mais obrigados a se esconder, e até se sindicalizam. No setor de restaurantes da França houve um movimento muito importante. Milhares de cozinheiros africanos, mouros, asiáticos, indianos, cingaleses e chineses pediram documentos junto com o sindicato de trabalhadores. E ganharam faz poucos meses. Foi importante porque até os professores defenderam e esconderam os filhos desses imigrantes nas escolas, porque a polícia às vezes entra para tirar uma criança cujos pais serão deportados.
A França tem leis anti-imigração tão pesadas quanto a Itália?
O governo francês fixou o objetivo de expulsar 30 mil pessoas por ano. Acabou a imigração. O que há é a imigração decidida pelo governo: se precisar de trabalhadores em algum setor, aceitam X pessoas. Mas isso implica a fuga de cérebros da África, por exemplo.
Qual o interesse do partido na América Latina?
Discutir com militantes anticapitalistas a crise econômica, tentar compreendê-la para saber como responder.
O que a esquerda na Europa aprende com a latina?
Queremos estimular novos partidos anticapitalistas no mundo diante da crise. No Brasil temos o exemplo do PSol (Partido Socialismo e Liberdade). Somos dois partidos que querem a ruptura do sistema.
Esquerdas autoritárias como a de Hugo Chávez atrapalham a união entre as esquerdas?
Nós não temos essa análise do governo de Chávez. Achamos que o que aconteceu lá, na Bolívia, com Morales, e no Equador, com Correa, são experiências muito interessantes porque são uma ruptura parcial com o imperialismo norte-americano.
Qual sua opinião sobre a ação social de Lula?
O Bolsa Família, é verdade, deu comida a milhões que antes não comiam. Mas Lula não trocou o sistema econômico, pelo contrário, ajudou o mercado financeiro.
O senhor se decepcionou com Lula?
Se você fala do Lula de 20 anos atrás, sim, mas aquele que chegou ao governo e fez sua política neoliberal, não. Sabíamos que seria assim.