O partido do ex-astro do críquete Imran Khan reivindicou vitória na eleição do Paquistão, após uma votação marcada por alegações de fraudes e atentados terroristas.
O Pakistan Tehreek-e-Insaf (PTI), partido de Khan, afirma que foi o mais votado e pode formar o governo federal. Uma contagem não oficial do jornal Dawn mostrou que o PTI conquistou 119 cadeiras, chegando perto das 137 necessárias para conquistar a maioria da Assembleia Nacional - embora apenas 49% dos votos tenham sido contados. O partido do ex-primeiro-ministro paquistanês Nawaz Sharif, Liga Muçulmana do Paquistão (LMP-N), ficou com 61 assentos e o Partido do Povo Paquistanês (PPP), com 40. O restante das 270 vagas que estavam em disputa ficaram divididas entre partidos menores.
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"O sentimento avassalador em favor do PTI em todo o país prova que o povo do Paquistão agora quer Kahn como seu líder e o PTI como o partido no poder para trazer a tão necessária mudança pela qual este país está esperando", disse Naeem ul Haq, líder do PTI.
A notícia foi bem recebida pelo mercado financeiro, já que investidores apostam que Khan seja capaz de formar um governo estável que possa resolver os problemas financeiros do país.
A votação desta quarta-feira (25) foi marcada por vários ataques terroristas, incluindo a explosão de uma bomba perto de uma zona eleitoral em Quetta, que matou 31 pessoas, e um ataque a um comboio militar que custou a vida de três soldados e um civil.
Alegações de fraude
Dois dos principais partidos o país, o PLM-N e o PPP, afirmaram que não vão reconhecer o resultado da contagem dos votos devido a inúmeras denúncias de que observadores eleitorais acreditados teriam sido expulsos das zonas eleitorais pelas forças de segurança.
O Exército colocou nas ruas 370 mil homens para acompanhar a votação - quase cinco vezes a quantidade empregada nas eleições de 2013, sob a justificativa de proteger os locais de votação contra ataques terroristas.
Shehbaz Sharif, 66, irmão do ex-premiê Nawaz Sharif e candidato pelo PML-N, rejeitou a contagem "devido a irregularidades manifestas e maciças", enquanto os resultados começavam a ser contabilizados e não havia um vencedor claro.
"Jamais na minha carreira política havia visto esse tipo de malversação".
O PPP também reclamou que seus observadores foram expulsos durante a contagem de votos em várias zonas eleitorais. O candidato a premiê pelo PPP é Bilawal Bhutto, filho da ex-premiê Benazir Bhutto, assassinada em 2007.
"Este é o sinal de alerta de uma ameaça séria", afirmou Sherry Rehman, senador pelo PPP. "Essa eleição inteira pode ser anulada e não queremos isso".
Ao menos seis partidos, incluindo o extremista Tehreek-e-Labbaik, fizeram reclamações similares.
O líder do partido Muttahida Qaumi Movement-Pakistan (MQM-P), Faisal Sabzwari, disse ainda que chefes das zonas eleitorais não estão fornecendo resultados certificados.
A Comissão Eleitoral rejeitou as acusações como infundadas. O secretário do órgão Babar Yaqoob disse a repórteres que os partidos não forneceram nenhuma evidência para respaldar suas reivindicações.
Khan é visto como a principal escolha dos militares para o primeiro-ministro, mas as alegações de fraude podem afetar a sua capacidade de formar um governo.
"As acusações de manipulação das eleições ocorrem depois de todas as eleições no Paquistão - mas desta vez será mais difícil ignorá-las, dado o papel que os militares desempenharam", disse Shamila Chaudhary, ex-oficial da Casa Branca e do Departamento de Estado dos EUA. "Acredito que o debate sobre a manipulação ocupará a elite política por algum tempo".
Influência dos militares
A campanha eleitoral foi marcada por acusações de manipulação pela Forças Armadas, por intimidações à imprensa e por uma série de atentados contra candidatos.
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"Essa eleição pode ser resumida como uma disputa entre ser pró-militares ou anti-militares. Imran Khan claramente se posicionou como um líder de torcida dos militares, feliz em receber seu apoio, mesmo quando esse apoio ocorre em detrimento do processo democrático", diz a analista paquistanesa Samira Shackel.
"Isso não significa necessariamente que os militares amem Khan, mas sim que eles odeiam Nawaz Sharif e querem mantê-lo fora do poder de qualquer maneira por causa de seus esforços para reparar o balanço de poder civil-militar e as relações com a Índia", acrescenta Shackel.
O cenário ideal para os militares é um aparato civil fraco que eles possam manipular e comandar. Isso significa que eles devem favorecer uma coalizão frágil, idealmente liderada por alguém disposto a cooperar, como Khan.
Khan há muito critica os EUA por ataques com drones no Paquistão, assumiu uma postura crítica contra a Índia e expressou apoio ao programa de infraestrutura de US$ 60 bilhões da China.
"Khan, como primeiro-ministro, dificilmente desafiará a autoridade do Exército em relação a políticas como segurança nacional, defesa e relações com a Índia, Afeganistão e Estados Unidos", afirmou Shailesh Kumar, diretor do Eurasia Group em Nova York.
Preocupação com a economia
O próximo líder do Paquistão precisará urgentemente lidar com uma crescente crise econômica: as desvalorizações cambiais que vem ocorrendo desde dezembro farão com que o próximo governo busque outro resgate do Fundo Monetário Internacional (FMI).
"A conclusão da eleição abre caminho para a negociação do FMI, que é o que, no curto prazo, os investidores mais se preocupam", disse Hasnain Malik, diretor de pesquisa de capital da Exotix Capital, em Dubai. "Uma vitória do PTI que chegue muito perto de uma maioria absoluta é, neste estágio, o resultado mais positivo para investidores de longo prazo interessados em ver uma melhor governança econômica no Paquistão".
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