Após denunciar uma série de irregularidades na contagem dos votos, o partido governista do Paquistão reconheceu nesta sexta-feira (27) sua derrota nas eleições gerais no país, abrindo caminho para que o ex-jogador de críquete Imran Khan, 65, lidere o novo governo.
"Vamos nos sentar as fileiras da oposição, apesar de todas as reservas", afirmou Hamza Shehbaz Sharif, filho do candidato Shehbaz Sharif, que é irmão do ex-premiê Nawaz Sharif, deposto pela Suprema Corte no ano passado por denúncias de corrupção.
O partido Pakistan Tehreek-e-Insaf (PTI; Movimento pela Justiça do Paquistão) de Khan não deve conseguir os 137 assentos necessários para uma maioria na Assembleia Nacional, mas não deve ter problemas para formar uma coalizão com partidos menores.
Fawad Chaudhry, porta-voz do PTI, disse que as conversas já começaram, mas devem durar alguns dias.
Os resultados oficiais são esperados para esta sexta. Os últimos dados parciais anunciados pela Comissão Eleitoral, com 95% das urnas apuradas, mostram o PTI com 115 assentos de um total de 272 que estavam em disputa.
Já a Liga Muçulmana do Paquistão Nawaz (PML-N) de Sharif grantiu 62 vagas. O Partido do Povo do Paquistão (PPP), de Bilawal Bhutto Zardari, filho da ex-premiê assassinada Benazir Bhutto, ficou em terceiro com 43 assentos.
"O PML-N vai ter o papel de uma oposição forte", disse Shehbaz Sharif, segundo o jornal Dawn.
Partidos extremistas e religiosos, como o Allahu Akbar Tehreek, o Ahl-e-Sunnat Wal Jamaat e Tehree-e-Labaik Pakistan, não obtiveram nenhuma vaga na Assembleia Nacional.
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O jornal The News informou que PTI conseguiu ainda obter o controle da Assembleia Nacional do Punjab, província que é base eleitoral dos Sharifs.
Uma equipe de monitoramento eleitoral da União Europeia afirmou que “apesar dos ataques mortais durante a corrida eleitoral e no dia da eleição, o povo do Paquistão demonstrou determinação e comprometimento à democracia”.
Em uma coletiva de imprensa, o porta-voz da missão, Michael Gahler, disse que o grupo, formado por 120 observadores, não identificou nenhuma interferência no dia de votação, mas salientou que o clima das eleições não estava tão bom quanto em 2013.
“O processo eleitoral foi ofuscado por alegações de interferência, restrições à liberdade de expressão e à mídia e oportunidades de campanha desiguais. Será essencial que qualquer processo de apelação seja conduzido de maneira justa e transparente”, declarou a missão em nota.
Análise
Se Khan assumir o cargo de primeiro-ministro, ele terá o apoio de muitos paquistaneses que querem ver reformas que distribuam a riqueza de forma mais igualitária ou que tirem o poder das velhas dinastias políticas. Entretanto seu sucesso nas urnas se deve, em grande parte, ao exército e seu poderoso serviço de inteligência, que o ajudou a ganhar para poder garantir mais facilmente seus próprios interesses - que incluem apoiar os talibãs no vizinho Afeganistão e encorajar outros grupos islâmicos extremistas. Isso significa que o Paquistão, que tem sido para os EUA um dos países mais difíceis de lidar nas últimas duas décadas, provavelmente se tornará um problema ainda maior para o governo norte-americano.
Durante seu tempo no cargo, Nawaz Sharif desafiou o controle militar na política externa, incluindo sua insistência na hostilidade permanente em relação à Índia (devido à disputa sobre a Caxemira) e seu patrocínio a organizações terroristas. Como resposta, foi processado por acusações de corrupção. Embora ele provavelmente seja culpado de acumular riqueza ilícita, as sentenças judiciais contra ele foram orquestradas pela poderosa agência Inter-Services Intelligence (ISI), ala de inteligência dos militares, de acordo com um juiz do Supremo Tribunal de Islamabad. Inúmeros relatos dão conta que os militares também subornaram ou intimidaram os membros do partido de Sharif para mudar seu apoio a Khan e forçaram a mídia paquistanesa a inclinar sua cobertura em favor de sua campanha.
Khan parece ter poucas visões de política externa além da antipatia em relação aos Estados Unidos; ele endossou a causa do Talibã no Afeganistão, o que segue a linha de pensamento dos generais paquistaneses, que, desde a suspensão da ajuda militar dos EUA pelo governo Trump, não mais pretendem cumprir as exigências dos EUA de suspender o apoio ao grupo terrorista. Os governantes do Paquistão agora parecem acreditar que o apoio da China, que está investindo dezenas de bilhões de dólares na infra-estrutura do país, lhes dá a liberdade de perseguir abertamente seus objetivos. A eleição de Khan é evidência de sua ascendência renovada. (Washington Post)
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