Banca de jornais em Túnis, com publicações dando destaque na primeira página para o assassinato de Chokri Belaid| Foto: Zoubeir Souissi/Reuters

Perigo

Para líder sindicalista, Tunísia corre o risco de uma "guerra civil"

O secretário-geral da União Geral de Trabalhadores Tunisianos (UGTT), Hussein Absi, assegurou que a decisão de fazer greve foi tomada após estudar "o caminho perigoso no qual entrou o país após a morte do ativista político Chokri Belaid". Para ele, o país corre o risco de uma "guerra civil".

Absi, que recebeu uma ameaça de morte após o anúncio da convocação, segundo informaram fontes de seu sindicato, advertiu que a morte de Belaid "abre a via ao assassinato de políticos em uma tentativa de silenciar o espírito civil livre".

A UGTT responsabilizou o "Governo de transição pela propagação da violência política e social, de encobrir os criminosos e de não perseguir os crimes contra o grupo, os partidos e a sociedade civil".

Desde que começou a transição após a queda do ditador Ben Ali, em 14 de janeiro de 2011, foram registrados episódios intermitentes de violência contra políticos, sindicalistas, artistas e jornalistas.

A oposição culpa pelos surtos de violência as denominadas Ligas para a Proteção da Revolução, compostas por simpatizantes do partido governamental e salafistas, cuja dissolução a UGTT voltou a pedir ontem.

CARREGANDO :)

O partido Ennahda rejeitou ontem a proposta do seu dirigente, o primeiro-ministro da Tunísia, Hamid Jebali, de formar um governo tecnocrata para responder à crise que ameaça o país.

"Ennahda tem meios para sair da crise", disse Faiçal Nasser, diretor do departamento de comunicação do partido, que lidera a aliança governista. De acordo com Nasser, a formação está estudando a opção de substituir Jabali se ele não voltar atrás.

Publicidade

Jabali, em resposta à onda de protestos que explodiu ontem em todo o país após o assassinato de Belaid, prometeu em discurso à nação dissolver o gabinete ministerial e criar um governo tecnocrata cuja missão seria realizar eleições o mais rápido possível.

"O movimento Ennahda não está de acordo com a postura tomada pelo presidente do governo", disse Abdelhamid Yalasi, vice-presidente do partido, majoritário na Assembleia Constituinte, em declarações a uma rádio nacional e divulgadas também pelo site do partido.

Segundo os líderes de Ennahda, Jabali tomou a decisão sem consultar seu partido nem seus parceiros de governo, o Congresso pela República (CPR), do presidente Monsef Marzuki, e o Takatol, do presidente do Parlamento, Mustafa Ben Yafaar.

O dirigente do partido também comentou que o Ennahda continua em negociações com seus parceiros de governo para estudar uma possível mudança ministerial e ressaltou que o líder do agrupamento, Rachid Ganuchi, está aberto à formação de um governo de união nacional.

Yalasi se mostrou convencido que "o país ainda necessita de um governo que inclua personalidades políticas e de coalizão e que realize sua função sobre uma base política".

Publicidade

Manifestações ocorreram ontem em várias partes do país, começando pela capital Túnis – onde as forças antidistúrbios voltaram a enfrentar milhares de jovens.

O principal sindicato do país, a União Geral de Trabalhadores Tunisianos (UGTT), convocou uma greve geral, marcada para hoje, dia também do enterro do dirigente opositor Chokri Belaid, assassinado na última quarta-feira. O crime está na origem das manifestações que ocorrem em Túnis.