Momento em que o israelense Yitzhak Rabin e o palestino Yasser Arafat apertam as mãos sob o olhar de Bill Clinton| Foto: Gary Hershorn/Reuters

Negociações

Líderes iniciam terceira tentativa de chegar a um acordo final de paz

No mês passado, israelenses e palestinos lançaram a terceira tentativa de negociar um acordo final de paz, estimulado pelo atual secretário de Estado dos EUA, John Kerry. Kerry não deixou claro se pretende romper os moldes dos Acordos de Oslo. A fórmula prescreve negociações bilaterais, mediadas pelos Estados Unidos, sobre fronteiras, arranjos de segurança, partilha de Jerusalém e o destino dos refugiados palestinos.

Críticos apontam uma falha fundamental em um dos princípios dos acordos: "Nada estará acordado enquanto não houver acordo sobre tudo". A intenção original era estimular a ousadia dos negociadores. Ao invés disso, duas das questões mais espinhosas – o controle dos lugares sagrados de Jerusalém e o destino dos refugiados palestinos – ficaram obrigatoriamente atreladas a outras sobre as quais um avanço era possível.

Garantias

O israelense Yair Hirschfeld e o palestino Samih al-Abed, dois acadêmicos e negociadores dos Acordos de Oslo, propuseram encerrar agora as negociações em andamento, mas com garantias internacionais: os palestinos receberiam garantias de que ficariam com a mesma quantidade de terras anterior à Guerra dos Seis Dias (1967) e com a capital em Jerusalém Oriental, mas a fronteira final e os territórios trocados seriam negociados posteriormente.

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Soldados palestinos próximos à Faixa de Gaza
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As palavras soavam esperançosas e históricas em 1993. Israel e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) concordavam ser aquele "o momento de dar um basta a décadas de confrontação e conflito", de coexistir pacificamente e de alcançar "um acordo de paz justo, abrangente e duradouro".

Vinte anos depois, as palavras que lançaram as negociações entre israelenses e palestinos para dividirem a Terra Santa em dois Estados e viverem em paz soam vazias. Negociadores afirmam que erros cometidos lá atrás estão causando problemas até agora.

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Os palestinos não parecem mais próximos hoje do que há 20 anos de fundarem um Estado independente na Cisjordânia, na Faixa de Gaza e em Jerusalém Oriental – e há quem diga que estão até mais distantes: o número de assentamentos judaicos na Cisjordânia ocupada dobrou, Jerusalém Oriental está isolada por uma barreira israelense e Gaza, governada desde 2007 pelo Hamas, está isolada por terra, mar e ar e aos poucos se transforma em um enclave distinto e sitiado.

Os israelenses, depois de anos de ataques de homens-bomba e de disparos de foguetes de Gaza, mostram-se desconfiados e céticos quanto à possibilidade de os palestinos – divididos politicamente, já que a Cisjordânia é dominada pelo Fatah – conseguirem implementar um acordo de paz, caso seja alcançado.

Acordos

A Declaração de Princípios, selada com um aperto de mãos na Casa Branca em 13 de setembro de 1993, foi celebrada como um avanço no conflito entre árabes e judeus. Foi o primeiro de uma série de acordos – coletivamente chamados de Acordos de Oslo, pelo fato de serem conquistados após reuniões secretas na Noruega – que resultariam na criação da Autoridade Nacional Palestina (ANP) e de uma colcha de retalhos de áreas autogovernadas nos territórios palestinos.

O ex-negociador palestino Ahmed Qureia diz que, se soubesse antes o que sabe hoje, não teria aceitado os acordos. "Com todos esses blocos de assentamentos? Não. Com o fechamento de Jerusalém? Não. Definitivamente", assegurou.

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O homólogo israelense naquelas negociações, o ex-chanceler Yossi Beilin, qualificou como um erro impor um período interino de cinco anos de autonomia palestina enquanto era tentado um acordo para a formação de um Estado. "Foi uma ideia tola", resumiu.

Fracasso é atribuído às duas partes

Ao longo das últimas décadas, os dois lados acusaram-se mutuamente pelos fracassos. Os palestinos afirmam terem feito uma grande concessão logo de cara, reconhecendo Israel nas fronteiras pós-1967 e aceitando 22% da Palestina histórica. Ao invés de ter negociado de boa-fé, Israel "tentou tirar ainda mais dos bolsos já vazios dos palestinos", nas palavras do ex-negociador palestino Ahmed Qureia. Isso levou adiante a política de assentamentos dos israelenses. Passadas duas décadas, porém, um dos principais resultados de Oslo sobrevive: os palestinos administram de maneira autônoma 38% da Cisjordânia e são financiados por ajuda externa. No ano passado, a Assembleia Geral das Nações Unidas reconheceu a Palestina como Estado observador.