Opinião
Hoje ainda vivemos em liberdade, mas continua sendo necessário lutar
José Martins Pereira, historiador português e presidente da associação Porto Histórico e Medieval.
Eu tinha 17 anos quando se deu a revolução. Meia hora antes do inicio da revolução, estava com quatro amigos no Largo da Paz quando passou um carro com cinco pessoas a gritar às janelas: "Liberdade, Liberdade, Liberdade!".
Dirigimo-nos para a Praça da Liberdade e, quando chegamos lá, dezenas de pessoas cochichavam que estava a ocorrer no país uma revolução militar que iria acabar com a tenebrosa e longa noite fascista de 48 anos.
Só fui dormir depois de saber que a revolução tinha triunfado. Começou aí minha aprendizagem do que deveria ser a sociedade portuguesa, uma sociedade justa e que a todos deveria ser dado o mínimo necessário para viver com dignidade.
Hoje ainda vivemos em liberdade, mas continua a ser necessário lutar. Hoje, ainda me apetece parafrasear Fernando Pessoa quando disse: "Senhor, ainda, falta cumprir-se Portugal".
Liberdade, oportunidade perdida ou processo fracassado são alguns dos termos usados pelos portugueses para definir a Revolução dos Cravos, o golpe militar que acabou com a ditadura e que, 40 anos depois, continua sem deixar ninguém indiferente. Em 25 de abril de 1974, um grupo de militares se rebelou contra o regime de Antonio Salazar, um marco que desperta opiniões e sentimentos desencontrados entre os cidadãos do país.
"O golpe de Estado tinha como objetivo acabar com a guerra colonial na África e não foi para trazer a democracia, como pensam muitos", argumenta o analista político e escritor Sant'Ana de Castro, de 77 anos.
Para outros portugueses, a data é motivo de orgulho, porque marcou o começo da participação da sociedade civil na política, ganhos em liberdade e melhora nas condições de vida. A lisboeta Isabel se alistou imediatamente no Partido Socialista após a revolução.
"Fui educada em uma sociedade na qual não se podia falar nem dizer o que realmente se queria", afirmou a portuguesa, que ainda lembra como nos anos da ditadura seu tio e seu pai ouviam clandestinamente a comunista "Rádio Moscou".
Ditadura
Já o ex-presidente socialista Mário Soares, primeiro chefe de governo eleito democraticamente após a ditadura, reconhece que Portugal vive hoje, em plena crise econômica, uma situação semelhante à de antes do levante militar. "Estamos caminhando rumo a uma ditadura", mas agora de cunho econômico, alertou.
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