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Pássaro responsável pelos duetos em close | Dale Morris/Divulgação
Pássaro responsável pelos duetos em close| Foto: Dale Morris/Divulgação

Confira algumas amostras dos duetos

Existe coisa mais fofa do que um casal de passarinhos cantando em harmonia? Pois a cena fica menos bonitinha se imaginarmos que os gorjeios harmônicos na verdade são uma espécie de grito de guerra, uma ameaça nada velada a potenciais invasores do território do casal. Essa é a principal descoberta de uma pesquisa feita por uma dupla de cientistas, que usaram um arsenal de microfones para entender porque algumas aves tropicais produzem esses duetos tão intrincados. O trabalho de Daniel J. Mennil, da Universidade de Windsor (Canadá), e Sandra L. Vehrencamp, da Universidade Cornell (EUA), abordou o Thryothorus rufalbus, pássaro das matas da Costa Rica que é parente distante do uirapuru da Amazônia, famoso por seu canto. Na pesquisa, que está na revista científica "Current Biology", os pesquisadores empregaram dois conjuntos complementares de aparelhos para entender que diabos os bichos estavam querendo "dizer" com seus duetos.

Para acompanhar o "caminho" do som que vinha do bico de cada macho e fêmea, os pesquisadores usaram um sistema de oito microfones, capaz de determinar a posição dos bichos com precisão. Além disso, usaram dois alto-falantes, estrategicamente posicionados, para simular de forma realista os duetos, induzindo, portanto, as reações que os pássaros teriam caso outro casal aparecesse na área.

Mistério

Duetos entre machos e fêmeas são comuns entre aves, insetos, anfíbios, primatas e até golfinhos e baleias, mas a dificuldade de seguir os bichos de forma precisa fez com que inúmeras hipóteses, nenhuma delas exatamente comprovada, tenham surgido para explicar o fenômeno. A complexidade desse comportamento no primo costa-riquenho do uirapuru é considerável, contou Daniel Mennill ao G1.

"Os casais da espécie às vezes cantam ao mesmo tempo e às vezes se alternam. É interessante que qualquer um dos sexos pode ser o primeiro a cantar, e então seu parceiro responde, transformando o canto num dueto", explica ele. Os bichos são territoriais, vivendo ao longo de rios nas matas fechadas da América Central. Por isso, seu território é alongado e "fino", com até 200 m de largura e uns 500 m de comprimento.

Saber para que lado os passarinhos caminhavam é importante porque ajuda a testar algumas das hipóteses mirabolantes propostas até hoje. Se o canto conjunto é uma forma de defender as fronteiras do território, é de se esperar que eles fossem mais freqüentes nas bordas da "terra" de cada pássaro. Já se o objetivo é manter a coesão entre o casal, os duetos deveriam ser mais comuns quando o parzinho está junto do que quando está separado.

O que os pesquisadores viram, na verdade, é que a função dos duetos parece depender do contexto. Sem o playback de casal rival para encher o saco, os casais "reais" cantam juntos quando estão separados por distâncias variáveis, e macho e fêmea tendem a se aproximar conforme cantam. Para a dupla, isso provavelmente significa que os duetos ajudam os bichos a manter "contato acústico" quando estão meio longe e imersos na vegetação densa. Já quando o playback dos rivais entra em cena, não só a quantidade de duetos aumenta quase cinco vezes como os machos parecem "responder" vigorosamente aos machos rivais, assim como as fêmeas "respondem" às fêmeas invasoras.

Para os pesquisadores, isso significa que os duetos funcionam tanto como defesa territorial diante de uma invasão quanto uma tática antipulada de cerca: machos e fêmeas fazem questão de deixar claro que não abrirão mão de seus respectivos parceiros. Mennill diz que, com base na pesquisa, é possível propor uma motivação geral para o comportamento no mundo animal. "Uma coisa que é comum a todos os animais que formam duetos é que eles vivem nos trópicos. Acho que isso sugere uma razão geral para a evolução dos duetos: animais que vivem na floresta tropical criaram, independentemente, uma forma de se comunicar no meio da vegetação densa", conclui o pesquisador.

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