A capacidade de planejar o futuro sempre foi considerada uma exclusividade dos seres humanos. Mas cientistas ingleses descobriram que não é bem assim. Um pequeno pássaro azul típico da Califórnia, nos Estados Unidos, faz estoques de alimentos para o futuro, prevendo hoje a necessidade que vai sentir amanhã.
Fazer planos é uma tarefa complexa. Alguns animais apresentam algo que parece planejamento, como pássaros que constroem ninhos para seus filhotes que ainda nem nasceram, mas não é -- é algo regido apenas pelo instinto. Segundo os cientistas, animais não parecem serem capazes de se desligar de suas necessidades imediatas para ter um futuro mais confortável.
É aí que entra o gaio-de-arbusto (Sphelocoma californica) um parente mais bonito do corvo. Observando a ave na natureza, os pesquisadores ficaram surpresos. A busca e o armazenamento de comida pela espécie davam a entender que os gaios tinham memória dos locais e horários onde tinham encontrado comida e também dos outros pássaros que estavam por ali competindo. Essa informação era usada no estoque e na proteção dos alimentos.
Intrigados, cientistas da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, liderados por Nicky Clayton, resolveram testar se essa memória servia para antecipar necessidades futuras. Pegaram um grupo de gaios e fizeram um teste.
Inicialmente, os animais foram mantidos em gaiolas com dois compartimentos para alimentação. Durante as noites, eles eram colocados, alternadamente, ou em um compartimento ou no outro até a manhã. Em um deles, sempre recebiam comida quando amanhecia. No outro, nunca. Durante o resto do dia, a alimentação continuava normalmente.
Após alguns dias de "treinamento", os cientistas passaram a oferecer comida durante a noite nos dois compartimentos. E viram que os gaios guardavam mais alimento quando estava do lado onde não recebiam comida pela manhã. Indicando não apenas memória do passado como planejamento do futuro.
Não contentes, os pesquisadores fizeram ainda outro teste. Em um compartimento passaram a oferecer sempre amendoins pela manhã. No outro, ração. Seguindo o mesmo princípio que o experimento anterior, após alguns dias treinando, eles passaram a oferecer tanto amendoins quanto ração durante a noite nos dois lados. Os gaios responderam, e aparentemente "preocupados" com uma dieta variada, passaram a estocar mais ração no compartimento onde sabiam que haveria amendoim pela manhã, e mais amendoim no compartimento da ração.
Segundo os cientistas, se não estivessem planejando o futuro, os pássaros responderiam apenas à fome. Primeiro, não haveria diferença na quantidade de alimento estocada em qualquer compartimento. Segundo, eles pegariam tanto amendoim quanto ração, sem discriminação.
"Não temos como saber o que eles estão pensando, então não podemos dizer que eles estão planejando da mesma maneira que nós planejamos", afirmou ao G1 a bióloga Sara Shettleworth, da Universidade de Toronto, no Canadá, que comentou o estudo na revista científica britânica "Nature", onde ele foi publicado. "Mas eles parecem apresentar o comportamento esperado de um animal caso estivesse realmente planejando e não agindo em cima de pistas do futuro, como mudanças de estações", diz ela.
Segundo Shettleworth, é provável que outros animais tenham as mesmas características que os gaios -- e humanos. "A dificuldade está em definir um teste adequado para avaliar isso", afirma.
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