Detenção de brasileiro desperta reações
Agência O Globo
A detenção do brasileiro David Miranda gerou uma onda de críticas dentro e fora do Reino Unido e foi destaque em na mídia internacional. Enquanto o ministério das Relações Exteriores do Brasil classificou a ação das autoridades do aeroporto de Heathrow como injustificável, parlamentares britânicos pediram a revisão da Lei do Terrorismo. Os EUA negaram estarem ligados ao caso e advogados de defesa dos direitos humanos condenaram a ação.
"A prisão de David Miranda é uma desgraça e reforça a cumplicidade indubitável entre EUA e Reino Unido na vigilância acima da lei de cidadãos", afirmou Michael Mansfield, um dos principais advogados de defesa de direitos humanos no Reino Unido. "O fato do Snowden e qualquer um remotamente associado a ele ser preso como um espião em potencial e terrorista é pura opressão do estado."
Enquanto isso, o Partido Trabalhista britânico instou autoridades a justificarem a razão da detenção de Miranda. Segundo legisladores da legenda, o uso inadequado dos poderes antiterroristas pode enfraquecer o apoio público a essas medidas.
"Isso causou uma consternação considerável e são necessárias respostas rápidas", disse a legisladora trabalhista Yvette Cooper, porta-voz do partido para assuntos de segurança interna.
O deputado britânico Keith Vaz, presidente de uma comissão parlamentar, afirmou que vai pedir explicações à polícia e classificou a detenção do brasileiro de fora do comum. "É uma reviravolta fora do comum para uma história muito complicada", disse Vaz à rádio BBC. "É certo que os serviços policiais e de segurança devem questionar as pessoas. O que precisamos fazer rapidamente é estabelecer os fatos. Agora temos uma reclamação do Sr. Greenwald e do governo brasileiro. Eles disseram que estão preocupados com o uso da legislação de terrorismo para algo que não parece estar relacionado com o terrorismo, por isso precisa ser esclarecido e rapidamente."
Para o Ministério do Interior britânico, a detenção de Miranda foi uma decisão operacional da polícia e não estava relacionada com nenhuma decisão do governo. "O artigo 7 é parte essencial das disposições de segurança britânicas. Depende da polícia decidir quando é necessário utilizá-lo", defendeu um porta-voz.
EUA negam envolvimento
Agência Estado
O governo dos Estados Unidos negou qualquer envolvimento na detenção por nove horas do brasileiro David Miranda, companheiro do repórter do jornal inglês The Guardian Glenn Greenwald, responsável pela série de reportagens que revelou procedimentos de espionagem das autoridades norte-americanas. A informação foi divulgada nesta segunda-feira, 19, pela rede britânica de televisão BBC.
Segundo a emissora BBC News, as autoridades norte-americanas informaram que a detenção de Miranda "não foi feita a pedido ou com o envolvimento do governo dos Estados Unidos". A informação foi atribuída a um porta-voz da Casa Branca.
Os ministros das Relações Exteriores do Brasil e do Reino Unido, Antonio Patriota e William Hague, conversaram na tarde de hoje (19), por telefone, sobre a detenção do brasileiro David Miranda no Aeroporto de Heatrow, em Londres. Patriota e Hague definiram que representantes dos dois países permanecerão em contato na busca de uma solução para o impasse envolvendo o assunto. Em comunicado de dois parágrafos, a embaixada britânica informa sobre a conversa, mas ressalta que o assunto está sob responsabilidade da polícia londrina.
"O ministro das Relações Exteriores britânico [Wiliam Hague] teve uma conversa particular com o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Antonio Patriota, sobre a detenção de David Miranda durante uma ligação telefônica esta tarde [19]. Eles concordaram que representantes dos governos brasileiro e britânico permanecerão em contato sobre o assunto. Esta continua sendo uma questão operacional da Polícia Metropolitana de Londres", diz a nota.
Em seguida, a embaixada reitera que as relações com o Brasil são intensas e de estreita parceria: "O Reino Unido e o Brasil têm uma forte relação bilateral. Nós trabalhamos em estreita parceria em diversas áreas, incluindo comércio e investimento, educação e energia. Continuamos a discutir uma vasta gama de questões de importância mútua para a política externa e para a agenda de segurança internacional", diz o embaixador britânico, Alex Ellis, no comunicado.
De manhã, Patriota disse que a detenção de Miranda, ontem (18) durante nove horas, no Aeroporto de Heathrow, não se justifica. Miranda é companheiro do jornalista do diário inglês The Guardian, Glenn Greenwald, que divulgou informações sobre o esquema de espionagem do governo norte-americano.
"Espero que não volte a acontecer. Hoje mesmo deverei conversar com o chanceler William Hague, do Reino Unido", disse o chanceler brasileiro, que, em discurso no Rio na manhã de hoje, condenou os "desmandos e desvios" que vêm sendo cometidos em nome do combate ao terrorismo no mundo. Segundo Patriota, há vários exemplos desse tipo de desmando, entre eles o enquadramento de pessoas mesmo sem justificativa alguma para a suspeita de envolvimento delas com o terrorismo.
"Continuamos a assistir alguns desmandos e desvios nessa questão do combate ao terrorismo. Reconhecemos que é um combate legítimo, que precisa ser articulado de forma a impedir que vidas inocentes sucumbam a atos de violência gratuita, mas também precisa se inspirar nos ideais de multilateralismo, direito internacional e racionalidade", acrescentou Patriota.
Polícia britânica será investigada por deter brasileiro, diz ouvidor
Folhapress
A polícia e o governo britânico terão que explicar oficialmente a detenção do brasileiro David Miranda, namorado do jornalista Glenn Greenwald, no aeroporto de Heathrow.
O ouvidor independente David Anderson vai investigar se houve abuso na aplicação das leis antiterrorismo, que dão poderes especiais às autoridades desde 2000.Se concluir que o brasileiro foi detido ilegalmente, ele deve enviar um relatório especial ao Parlamento e sugerir mudanças imediatas na legislação.
Miranda ficou retido quase 9 horas numa sala com seis agentes da Scotland Yard (polícia metropolitana de Londres), quando fazia escala no país para voltar ao Rio.
A viagem do Miranda a Berlim foi financiada pelo jornal britânico "Guardian", onde trabalha Greenwald. Lá, ele visitou Laura Poitras, documentarista americana que auxilia o jornalista na divulgação dos documentos repassados por Edward Snowden.
Um porta-voz do primeiro-ministro David Cameron saiu em defesa das leis antiterror e disse que caberá à própria polícia examinar se houve abuso em sua aplicação."O governo toma todos os passos necessários para proteger a sociedade de indivíduos que possam representar ameaças à segurança nacional", afirmou o porta-voz ao jornal "The Guardian", para o qual Greenwald trabalha. "Cabe à polícia decidir quando a necessidade e a proporção do uso desses poderes."
Mais cedo, deputados da oposição trabalhista criticaram a detenção do brasileiro. Yvette Cooper, responsável por fiscalizar o Ministério do Interior, cobrou uma investigação urgente do caso. "Qualquer suspeita de que os poderes contra o terrorismo estão sendo usados de forma incorreta deve ser investigada e esclarecida com urgência", afirmou.
A polícia londrina afirmou à Folha que não divulgará mais informações sobre o caso. A instituição se recusou a responder por que o brasileiro foi detido e o que será feito com os bens dele que foram confiscados, incluindo um laptop e um celular.
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