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Separatismo

Patriotismo espanhol explode e irrita quem defende autonomia

O catalão Puyol derrama champanhe no colega de time e conterrâneo Piqué, devidamente enrolado na bandeira catalã: boa participação dos jogadores da região autônoma fez surgir esperança de unificação nacional pelo esporte | Miguel Riopa/AFP
O catalão Puyol derrama champanhe no colega de time e conterrâneo Piqué, devidamente enrolado na bandeira catalã: boa participação dos jogadores da região autônoma fez surgir esperança de unificação nacional pelo esporte (Foto: Miguel Riopa/AFP)
Espanha: conheça mais o país |

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Espanha: conheça mais o país

"El patriotismo espanyol surt de l’armari" escreveu sarcasticamente uma blogueira catalã du­­rante a comemoração da vitória da Es­­panha no domingo passado. "O patriotismo espanhol sai do armário." Se o primeiro título mundial espanhol, conquistado com um time em que oito jogadores são catalães e um é basco, não chega a representar o fim do separatismo no país, ao menos coloca em xe­­que a utilidade dessa bandeira hoje em dia.As duas regiões, País Basco e Catalunha, já são as mais autônomas entre as 17 da Espanha, mas alguns de seus habitantes querem mais. No caso dos bascos, há terroristas que ainda matam em busca da separação; no catalão, o governo e parte da população brigam por completa autonomia financeira. Tanto que, no dia anterior à final da Copa, um protesto levou 500 mil pessoas às ruas da Cata­­lunha contra restrições legais ao estatuto de autonomia da região, que data de 2006.

Apesar disso, a comemoração após a final uniu torcedores. De um lado, houve quem fi­­zesse a analogia entre a união dos jogadores em campo, estilo levado pelos integrantes do Bar­­celona para a seleção, e o clima de euforia que varreu o país como um todo.

O sociólogo e diretor-técnico do Programa para Atletas de Alto Nível do Conselho Superior de Es­­portes da Espanha, Alberto Sán­­chez, destacou, em entrevista ao portal RTVE, o "efeito aglutinador do sentimento nacional". "As vitórias da seleção espanhola ajudam-nos a sermos mais espanhóis e nos animam a enfrentar as dificuldades", disse, referindo-se à cri­­se econômica pela qual passa o país de 47 milhões de habitantes, com o desemprego batendo em 20%.

Os efeitos do resultado esportivo, porém, podem passar rápido. "É como um analgésico que durará no máximo 48 horas, uma aspirina para a dor, mas que depois voltará", comparou o psicólogo espanhol Pablo del Río.

Do contra

Houve catalães que preferiram torcer domingo passado para a Holanda, e o jornal regional El Punt-Avui chegou a incluir a vitória espanhola na seção internacional.

A posição é de uma minoria fortemente criticada no país. O escritor e jornalista Javier Orrico escreveu em seu blog que "a maioria dos catalães, que não é enxergada pelo regime [autônomo re­­gional], alheia aos cargos públicos, que vive, pensa e sente como os espanhóis de qualquer outra região, saiu às ruas gritando ‘eu sou espanhol, espanhol, espanhol’ para escândalo da casta, pois esse grito supõe a revoada das bases ideológicas sobre as quais a classe política construiu sua camuflada ditadura".

O editor da edição em inglês do jornal madrilenho El País, James Badcock, aposta em uma análise mais direta ao sugerir que os jogadores simplesmente dão um exem­­plo, que pode ou não ser seguido.

"Se o seu jogador preferido não se importa com que o colega catalão mostre a bandeira da região dele na comemoração, então para que se importar com isso?", questionou à Gazeta do Povo, reduzindo o impacto das imagens clicadas após o jogo, em que os jogadores originários da Catalunha Piqué e Puyol desfilaram com sua bandeira, de listras finas amarelas e vermelhas – em oposição à es­­panhola, de duas listras grossas vermelhas e uma amarela.

Mas ele não crê num novo cli­­ma nacional como fruto do esporte. "Seria muito fácil dizer nesta semana que, sim, há uma atmosfera diferente. Não acho que dentro de algumas semanas ou meses [a vitória] fará muita diferença. Esporte e política são melhores se não forem misturados."

Frutos da Olimpíada

Difícil resistir à tentação de comparar este "ano espanhol" com 1992, quando o sucesso na realização da Olimpíada de Barcelona caracterizou uma vitória da Es­­panha como "marca". O país se firmava como estrela do desenvolvimento europeu, e os jogos foram muito bem aproveitados em termos de imagem. "Na época, a situação era outra, o país era uma democracia muito jovem, com infraestrutura e serviços bá­­sicos", lembra Badcock. Toda me­­­­lhoria representava um grande avanço.

Agora, com 30 anos de partidos plurais e, à exceção do extremismo, coexistência relativamente pacífica, o que se pode es­­perar de efeito colateral do Mun­­dial é mais confiança. "Só não sei se ela elimina as tensões regionais. Muitos espanhóis ainda preferem viver, acima de tudo, em sua região."

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