"El patriotismo espanyol surt de larmari" escreveu sarcasticamente uma blogueira catalã durante a comemoração da vitória da Espanha no domingo passado. "O patriotismo espanhol sai do armário." Se o primeiro título mundial espanhol, conquistado com um time em que oito jogadores são catalães e um é basco, não chega a representar o fim do separatismo no país, ao menos coloca em xeque a utilidade dessa bandeira hoje em dia.As duas regiões, País Basco e Catalunha, já são as mais autônomas entre as 17 da Espanha, mas alguns de seus habitantes querem mais. No caso dos bascos, há terroristas que ainda matam em busca da separação; no catalão, o governo e parte da população brigam por completa autonomia financeira. Tanto que, no dia anterior à final da Copa, um protesto levou 500 mil pessoas às ruas da Catalunha contra restrições legais ao estatuto de autonomia da região, que data de 2006.
Apesar disso, a comemoração após a final uniu torcedores. De um lado, houve quem fizesse a analogia entre a união dos jogadores em campo, estilo levado pelos integrantes do Barcelona para a seleção, e o clima de euforia que varreu o país como um todo.
O sociólogo e diretor-técnico do Programa para Atletas de Alto Nível do Conselho Superior de Esportes da Espanha, Alberto Sánchez, destacou, em entrevista ao portal RTVE, o "efeito aglutinador do sentimento nacional". "As vitórias da seleção espanhola ajudam-nos a sermos mais espanhóis e nos animam a enfrentar as dificuldades", disse, referindo-se à crise econômica pela qual passa o país de 47 milhões de habitantes, com o desemprego batendo em 20%.
Os efeitos do resultado esportivo, porém, podem passar rápido. "É como um analgésico que durará no máximo 48 horas, uma aspirina para a dor, mas que depois voltará", comparou o psicólogo espanhol Pablo del Río.
Do contra
Houve catalães que preferiram torcer domingo passado para a Holanda, e o jornal regional El Punt-Avui chegou a incluir a vitória espanhola na seção internacional.
A posição é de uma minoria fortemente criticada no país. O escritor e jornalista Javier Orrico escreveu em seu blog que "a maioria dos catalães, que não é enxergada pelo regime [autônomo regional], alheia aos cargos públicos, que vive, pensa e sente como os espanhóis de qualquer outra região, saiu às ruas gritando eu sou espanhol, espanhol, espanhol para escândalo da casta, pois esse grito supõe a revoada das bases ideológicas sobre as quais a classe política construiu sua camuflada ditadura".
O editor da edição em inglês do jornal madrilenho El País, James Badcock, aposta em uma análise mais direta ao sugerir que os jogadores simplesmente dão um exemplo, que pode ou não ser seguido.
"Se o seu jogador preferido não se importa com que o colega catalão mostre a bandeira da região dele na comemoração, então para que se importar com isso?", questionou à Gazeta do Povo, reduzindo o impacto das imagens clicadas após o jogo, em que os jogadores originários da Catalunha Piqué e Puyol desfilaram com sua bandeira, de listras finas amarelas e vermelhas em oposição à espanhola, de duas listras grossas vermelhas e uma amarela.
Mas ele não crê num novo clima nacional como fruto do esporte. "Seria muito fácil dizer nesta semana que, sim, há uma atmosfera diferente. Não acho que dentro de algumas semanas ou meses [a vitória] fará muita diferença. Esporte e política são melhores se não forem misturados."
Frutos da Olimpíada
Difícil resistir à tentação de comparar este "ano espanhol" com 1992, quando o sucesso na realização da Olimpíada de Barcelona caracterizou uma vitória da Espanha como "marca". O país se firmava como estrela do desenvolvimento europeu, e os jogos foram muito bem aproveitados em termos de imagem. "Na época, a situação era outra, o país era uma democracia muito jovem, com infraestrutura e serviços básicos", lembra Badcock. Toda melhoria representava um grande avanço.
Agora, com 30 anos de partidos plurais e, à exceção do extremismo, coexistência relativamente pacífica, o que se pode esperar de efeito colateral do Mundial é mais confiança. "Só não sei se ela elimina as tensões regionais. Muitos espanhóis ainda preferem viver, acima de tudo, em sua região."
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