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A base militar americana de Pearl Harbor, localizada no Havaí, conhecida por ter sido alvo de um ataque surpresa do Japão em 1941, que levou os Estados Unidos a entrarem na Segunda Guerra Mundial, pode estar enfrentando neste momento uma nova ameaça: a suspeita de espionagem chinesa.
Segundo documentos obtidos pelo Projeto de Supervisão do think tank The Heritage Foundation, uma organização conservadora baseada nos EUA, e que foram veiculados pelo site The Daily Signal, pelo menos 14 casos envolvendo tentativas de acesso ou vigilância ilegal por parte de cidadãos chineses foram registrados na base ou em suas proximidades desde 2018.
Os documentos obtidos pelo The Heritage Foundation estão sob a responsabilidade do Centro de Operações de Aplicação da Lei Consolidada da Marinha e foram solicitados através da Lei de Liberdade de Informação dos EUA.
A organização afirma que tentou obter outras informações sobre possíveis incidentes de espionagem chinesa em mais bases americanas, mas apenas Pearl Harbor decidiu colaborar e fornecer os registros que tinham sobre tentativas de infiltrações de cidadãos do país asiático.
Nos documentos divulgados pelo site e obtidos pela organização são citados casos envolvendo chineses que chegaram a enviar drones para sobrevoar a base, suspeitos que tiraram fotos dos pontos de entrada da instalação militar, e até um principio de perseguição policial contra um veículo que tentou se aproximar do local e fugiu.
Todos esses casos ocorreram nos últimos seis anos e chegaram a ser investigados pelo Serviço Naval Investigativo Criminal (NCIS, na sigla em inglês), a agência de polícia da Marinha americana, segundo o site americano.
Conforme noticiou o Daily Signal, entre os casos que foram revelados nos documentos que o The Heritage Foundation teve acesso está um que ocorreu no final de setembro do ano passado, quando, segundo os registros, dois chineses - um homem e uma mulher - foram detidos pelas autoridades por “circunstâncias suspeitas” porque estavam “gravando vídeos e tirando fotografias digitais” na parte externa de um dos portões de entrada da base.
Segundo o site americano, as autoridades responsáveis pelo caso afirmaram posteriormente que ambos também tentaram entrar na instalação militar.
Ao serem detidos, os dois indivíduos foram questionados sobre onde residiam ou onde estavam hospedados, no que responderam que apenas “estavam visitando o Havaí por dois dias e não tinham quarto de hotel”. Os documentos apontam que os dois suspeitos foram submetidos a procedimentos de segurança e depois foram liberados.
No começo de outubro do ano passado, poucos dias após os incidentes com os dois chineses suspeitos, outro possível caso de espionagem foi registrado. Desta vez, um cidadão chinês dirigindo um carro sem identificação tentou entrar na base pelo mesmo portão onde o homem e a mulher foram pegos da última vez, mas sem sucesso. O caso foi investigado e depois arquivado.
Em março de 2023, os documentos obtidos pelo The Heritage Foundation e veiculados pelo Daily Signal apontam que mais um caso suspeito de espionagem foi registrado em Pearl Harbor. Segundo um dos registros, um cidadão chinês estava em um carro parado nas proximidades da instalação militar tirando fotos do local.
Autoridades citadas no documento disseram que interrogaram o homem, que afirmou apenas estar fazendo “fotos de recordação”. No documento, elas afirmam que apagaram as imagens do aparelho dele e o escoltaram para longe do local. Não há registros sobre detenção.
Outro incidente preocupante envolvendo suspeita de espionagem chinesa na base americana ocorreu em 2019, quando um guarda de uma importante entrada da instalação militar notificou as autoridades de que um “drone preto com uma câmera” estava pairando próximo do portão pelo qual ele era responsável.
No registro, ele disse que tinha avistado a pessoa que estava controlando o equipamento, que pousou minutos depois em um prédio ao lado do Memorial USS Arizona.
O site americano afirma que os documentos obtidos apontam que as autoridades fizeram contato com o operador do drone, um chinês, que disse apenas que estava visitando o memorial, que fica localizado na base.
O uso do equipamento ocorreu, segundo o indivíduo, para filmar alguns barcos que ele viu passando pelo local. Ele justificou a ação afirmando que estava “cursando fotografia”. Segundo o site americano, o NCIS assumiu o caso, mas logo depois encerrou a investigação.
Os documentos veiculados pelo Daily Signal também citam um caso que ocorreu em 2018, onde a polícia chegou a realizar uma perseguição de carro contra um cidadão chinês que havia se aproximado de forma suspeita de Pearl Harbor. A perseguição durou algumas horas, mas o homem foi alcançado e detido.
O documento policial obtido pelo site americano não cita como foi todo o procedimento, apenas especifica que o suspeito foi escoltado momentos depois para fora da área de proximidade da base.
Os documentos obtidos pelo Projeto de Supervisão do The Heritage Foundation não citam um motivo específico para o NCIS não ter aprofundado um pouco mais as investigações sobre os casos suspeitos de espionagem.
No entanto, o site americano informou que os documentos entregues pelos militares ao think tank estavam extremamente editados, o que pode indicar que nem toda a informação sobre os casos podem estar ali.
Casos sob investigação na Câmara dos EUA
De acordo com o Daily Signal, o Comitê de Supervisão e Responsabilidade da Câmara dos Representantes dos EUA passou a investigar no ano passado de forma mais profunda todos esses casos envolvendo cidadãos chineses que são acusados de violar de forma suspeita e intencional as regras e as instalações militares dentro do solo americano.
O site afirmou que o comitê inclusive já chegou a enviar uma notificação junto com o subcomitê de segurança nacional, fronteira e assuntos exteriores da Câmara sobre o assunto para o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, e para o diretor do FBI, Christopher Wray, em outubro do ano passado, onde citam que “cidadãos chineses, às vezes se passando por turistas, acessaram ou tentaram acessar bases militares dos EUA e outras instalações governamentais sensíveis com frequência de até 100 vezes nos últimos anos”.
Dois republicanos da Câmara dos Representantes dos EUA disseram ao site americano na segunda-feira (5) que os Estados Unidos precisam tomar mais “precauções para proteger suas bases militares da espionagem do Partido Comunista Chinês (PCCh)”.
“O PCCh continua a vigiar e sondar as defesas americanas até mesmo aqui em solo americano”, afirmou o deputado republicano Mike Gallagher, que preside o Comitê Seleto da Câmara dos EUA sobre o Partido Comunista Chinês, por meio de um comunicado enviado ao Daily Signal.
“Precisamos tomar precauções de bom senso, como impedir que entidades ligadas ao PCCh comprem terras perto de nossas bases militares ou de outras infraestruturas relacionadas à segurança nacional”, acrescentou ele.
James Comer, deputado republicano que preside o Comitê de Supervisão e Responsabilidade da Câmara dos EUA disse ao site americano na segunda-feira que os “relatos de espionagem chinesa em solo americano são profundamente preocupantes”.
“É fundamental que possamos garantir a segurança de nossas instalações militares mais sensíveis e proteger os militares que operam dentro delas”, afirmou Comer, lembrando que seu Comitê já realizou diversas visitas nas bases militares dos EUA.
Em setembro do ano passado, o Daily Signal informou que Gallagher também enviou uma notificação contando com o apoio de membros republicanos de seu comitê seleto tanto para Austin quanto para Wray, solicitando um resumo sobre as ações da China dentro dos Estados Unidos que visavam obter acesso a informações militares, econômicas e tecnológicas.
No mesmo mês, o comitê também enviou uma outra notificação para as autoridades americanas onde revelava que havia descoberto que “agentes chineses em potencial” se “infiltraram em um campo de testes do Exército dos EUA, acessaram vários locais de mísseis e usaram tecnologia de drones para vigiar o terreno”.
O documento, segundo o site americano, também citava que mergulhadores, que se suspeitava serem da China, foram encontrados perto de “um local de lançamento de satélites espiões dos EUA e de outros equipamentos militares sensíveis”.